sábado, 17 de julho de 2010

Novo longa de Geraldo Sarno estreia em Gramado



O último romance de Balzac, novo longa de Geraldo Sarno, é um dos selecionados para participar do 38º Festival de Cinema de Gramado.

O filme é baseado no livro O Avesso de um Balzac contemporâneo- Arqueologia de um pastiche, resultado de dez anos de estudo do psicólogo Osmar Ramos Filho sobre outro livro, Cristo espera por ti, ditado por Balzac ao médium Valdo Vieira. Em certo ponto do filme, há uma parte ficcional que adapta o romance A pele de Onagro (La peau de chagrin), escrito por Balzac em 1831.

O interesse pelo fazer cinematográfico / literário é o que move o diretor nos últimos anos. Sarno descreve o novo filme como um jogo de espelhos com diferentes níveis de leitura, criação e reinterpretação da obra de Balzac: primeiro, a partir do livro psicografado; depois, da pesquisa do psicólogo; e por fim, do próprio documentário.

Seu último anterior, Tudo isto me parece um sonho (2008), que investiga a "herança" deixada pelo general pernambucano José Ignácio de Abreu e Lima, gira especialmente em torno desse processo de reflexão / criação. Celebrado em Brasília com os prêmios de melhor roteiro e direção, o filme foi considerado pelo cineasta Carlos Reichenbach como "a maturidade política do documentário brasileiro".

Após quase cinco décadas dedicadas à produção e educação, o premiado diretor de Viramundo (1964), Iaô (1973) e Delmiro Gouveia (1978) adota um discurso mais grave, que alerta produtores e patrocinadores do audiovisual para a necessidade de discutir linguagem e criação.

"Quando digo que nós perdemos, é porque essa questão, tão importante, é ao mesmo tempo inteiramente marginal, não comove ninguém, em nenhum país da América do Sul".

A seguir, trechos de uma entrevista que fiz com Sarno em 2009, enquanto rodava O último romance de Balzac.

André Dib - Porque a opção por Balzac e a psicografia no novo filme?
Geraldo Sarno - O que mais me interessa é refletir sobre o processo de criação. Posso considerar o livro de Valdo Vieira como uma leitura de Balzac, uma interpretação da sua obra. O estudo científico de Osmar Ramos é uma segunda interpretação, a partir da análise do "pastiche". Se nós, enquanto cinema, trazemos a figura histórica de Balzac e sua obra, no caso A pele de Onagro, citada no estudo de Osmar, fazemos também uma análise própria. São, no mínimo, três pontos de vista, mais o nosso - o do filme.

A relação entre palavra e imagem parece ser algo constante na sua carreira.
Estou tornando essa relação mais precisa agora. Um possível subtítulo para esse filme seria "a palavra e a imagem". É sabido que o Balzac dava primazia à imagem, inclusive por sua aproximação da pintura. Tanto que o Osmar, a partir do livro psicografado, identifica um quadro do século 17, feito pelo pintor holandês Paul Potter, mais ou menos contemporâneo de Rembrandt. Osmar descobriu que quadro é esse, e faz uma análise entre a pintura e a A pele de Onagro, algo absolutamente original e nunca realizado por nenhum estudioso de Balzac.

Como entender o conceito de "protodocumentário", que você utiliza em seu último filme? O "pastiche" ficcional reservado a Balzac seria algo semelhante?
Penso em A pele de Onagro como um "pastiche" do texto original, uma imagem para cada palavra, em diálogo com o romance. Diferente do filme Tudo isto me parece um sonho, onde existe um documentário dentro do documentário, que poderia ser entendido como um protodocumentário sobre a cana de açúcar. É um série de planos dispostos com elementos mais simples do tema: a plantação, o corte, a usina, uma série de planos com narração de um texto histórico do século 19, de Antonio Pedro Figueredo. Uma sequência básica, embrionária, quase que não manejada. Esteticamente, é a coisa mais linda que eu já fiz.

Entrevista completa aqui.

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