domingo, 4 de julho de 2010

Novo fôlego ao cinema de bairro



Eles, que sumiram para dar lugar a igrejas, supermercados e lojas de material de construção, agora têm novo fôlego para retornar. Falamos dos cinemas de bairro e interior, que acabam de ganhar um poderoso aliado. Semana passada, o governo federal lançou um programa que pretende incentivar a expansão do parque exibidor para mais 600 novas salas no país. O programa Cinema Perto de Você direciona R$ 500 milhões em financiamentos e investimento direto, prioritariamente para projetos do Norte e Nordeste com mais de 100 mil habitantes que ainda não têm salas de cinema.

Em Pernambuco, as cidades de Igarassu, Vitória de Santo Antão, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, Caruaru, Paulista e Olinda são prioritárias para o programa. Propostas de implantação de salas em Garanhuns, Petrolina, Jaboatão dos Guararapes e Recife também podem ser contemplados, desde que situados em bairros populosos e sem cinema. O programa prevê benefícios para projetos em locais com população entre 20 mil e100 mil habitantes através do projeto Cinema da Cidade, em que prefeituras e governos estaduais implantam salas com recursos federais para que a iniciativa privada administre.

O Brasil conta com cerca de 2.200 salas. O objetivo do programa, que usa recursos do Fundo Setorial do Audiovisual da Agência Nacional do Cinema e do Programa de Apoio da Cadeia Produtiva do Audiovisual, do BNDES, é permitir a consumidores da classe C o acesso a filmes do circuito comercial.

"A geografia do cinema mudou. Na década de 1970 havia quase 3.300 salas de cinema no país, uma para cada 30 mil habitantes, a maioria em cidades do interior. Mudanças tecnológicas e a baixa capitalização do setor provocaram essa concentração, mas há um fato novo: o crescimento da classe C, que quer consumir bens culturais. E os filmes nacionais precisam ir ao encontro desse público", diz Manoel Rangel, da Ancine.

Desoneração tributária, sistema de controle de bilheteria e a digitalização do parque exibidor são outros eixos a serem trabalhados. Aisenção de impostos vale para aquisição de equipamento, construção e modernização de complexos de exibição. Sobre a bilheteria, não incidirá tributos como PIS e Cofins. De acordo com Rangel, isso garantirá ingressos a preços mais acessíveis.

No dia do lançamento, o presidente Lula convocou o poder público estadual e municipal a fazer o mesmo. O governo do Rio de Janeiro ouviu e isentará as novas salas da cobrança de ICMS. Carla Francine, coordenadora de cinema da Fundarpe, acredita que o governo do estado se alinhará ao novo programa e adianta que ele estará na pauta dos seminários promovidos pelo Festival de Cinema de Triunfo, marcado para 26 a 31 de julho.

Para elaborar as bases do Cinema Perto de Você, foram ouvidos distribuidores, administradores de shopping e exibidores. O grupo PMC Cinemas, que mantém salas em Garanhuns e São Lourenço da Mata, foi um deles. "É uma excelente inciativa, pois para retomar o hábito de ir ao cinema requer tempo. Em São Lourenço, foram necessários três anos para isso", diz Paulo Menelau, que tem planos de abrir mais nove salas até 2011. Além disso, ele diz que distribuidoras fazem cópias apenas para grandes exibidores, o que deixa os pequenos de fora das estreias nacionais. "Eles dão preferência às salas que cobram ingressos mais caros, pois ganham 50% da bilheteria. Por isso, a solução pode estar na transição para o sistema de exibição digital".

Assim como Menelau, Carol Ferreira, programadora do Cine Rosa e Silva, vê na digitalização uma saída para salas médias e pequenas. Para ela, mais do que a necessidade de acompanhar as estreias, o "nó" está na sobrevivência econômica. "É comum filmes que já estrearam virem para cá e encontrar um novo público. Imagine isso no interior, com ingressos mais baratos. Mas ainda assim, o cinema precisa de dinheiro em caixa para se manter aberto".

(Diario de Pernambuco, 04/07/2010)

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