sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tarantino em sua melhor forma



À prova de morte (Death proof, EUA, 2007), um dos melhores filmes de Quentin Tarantino, quase não chegava ao circuito brasileiro. A "culpa" é de Planeta Terror, primeiro longa do projeto intitulado Grindhouse. O filme de Robert Rodriguez foi tão mal que nem o prestígio de Tarantino salvaria a segunda parte de ir direto para o mercado de home video. Se hoje podemos noticiar sua estreia, isso se deve à boa performance do recente Bastardos inglórios.

Com orçamento baixo e ótimos atores, À prova de morte é Tarantino em sua melhor forma: direto ao assunto, incorreto, selvagem. Irrepreensível. O estranhamento surge já no primeiro instante, quando fotogramas perdidos e erros grosseiros surgem nos créditos iniciais. Fica claro que o diretor não quis só simular a estética "B" dos anos 1970, mas dar ao filme um aspecto mofado, como um rolo esfarrapado após inúmeras exibições. Fora isso, há problemas de montagem, continuidade, cor e som. E uma prodigiosa trilha sonora, reproduzida em jukebox de discos de vinil.

Outro ponto em comum entre seus filmes, há o resgate de um ator esquecido, no caso, Kurt Russell (Fuga de Nova York). No entanto, o elogio vai para as mulheres, todas interessantes, fortes, sagazes. O dublê Mike (Russell) se torna vilão natural quando as reduz a carne moída. E alvo da vingança do próximo grupo de fêmeas.

Mais do que violência e carros possantes, À prova de morte trata de amor a um certo tipo cinema. Um filme à moda antiga que se passa no presente, entre aparelhos celulares e modernidades afins. O conflito de realidade surge em uma eletrizante perseguição, quando os "possantes" entram numa autopista e empurram carros modernos para fora. No território de Tarantino, eles estão no filme errado.

(Diario de Pernambuco, 23/07/2010)

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