sábado, 24 de julho de 2010

Cineclubismo busca seu QG



Encaixotados, cerca de 3 mil livros e revistas sobre cinema aguardam para ser descobertos. Eles foram cedidos em maio, pela Cinemateca Brasileira, à Federação Pernambucana de Cineclubes. A maior parte do presente é de periódicos: edições da revista American Cinematographer, da francesa Cahiers du Cinéma, da italiana Bianco e Nero e das brasileiras Cinejornal e SET. Entre os livros estão História do Cinema Brasileiro, de Maria Rita Galvão e exemplares da Coleção Ensaio. Sem local fixo para organizar o acervo, a organização, que representa 30 cineclubes do litoral, interior e Fernando de Noronha, decidiu pleitear sede própria, onde pretendem abrir uma biblioteca especializada em cinema aberta para consulta pública.

O acervo fazia parte do catálogo de obras duplicadas da biblioteca da Cinemateca, sediada em São Paulo. Em visita ao Recife, Adilson Mendes, do Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira conheceu Gê Carvalho, presidente da Fepec e promoveu o intercâmbio. "Percebi o engajamento da Fepec e achei que ela poderia transformar esse acervo duplicado em algo construtivo", disse Mendes.

Acumulado por décadas, o acervo da Cinemateca Brasileira é um dos maiores do país. Parte dos filmes, cartazes e fotos está digitalizada e disponível, em caráter experimental, no site do Banco de Conteúdos Culturais. Títulos de livros e periódicos podem ser consultados no site da instituição. Desde 2001, quando se instalou na Vila Mariana, ela passou a trocar exemplares duplicados com bibliotecas parceiras. "O caso da Fepec é específico. Encontramos na doação uma forma de incentivar a fundação de uma sede", diz João Pedro Moraes, gerente da Biblioteca Paulo Emílio Salles Gomes, da Cinemateca.

Enquanto o QG não vem, a Fepec usa como base para reuniões a residência de seu presidente, que também serve de central para os 200 filmes que disponibiliza para filiados. Os livros permanecem nas caixas em que foram enviados, longe das condições ideais de conservação.

Fundada em 2008 durante encontro no primeiro Festival de Triunfo, a Fepec quer organizar e fomentar a atividade, em crescimento no estado. Estima-se que atualmente existam cerca de 100 cineclubes em Pernambuco, a maioria com incentivo do poder público federal, estadual e federal. "Em Pernambuco temos o governo como aliado e isso é motivo de inveja em outros lugares do país", diz Carvalho, que desenvolve um sistema digital que monitora a atividade no estado. "Agora temos como dimensionar periodicidade e público das sessões". De acordo com Carvalho, cinco estados brasileiros vão replicar este modelo de relatório.

A Fundarpe, que apoia a Fepec desde sua criação, dispôs de uma sala para servir de base aos cineclubistas, mas a oferta foi refutada. "Somente uma sede pode suprir nossa necessidade estrutural", diz Gê Carvalho, que justifica a decisão enumerando necessidades administrativas, possibilidades formativas e utilidade pública, como uma sala de exibição e o espaço para a biblioteca. Para ele, convênios com órgãos públicos e privados podem viabilizar o projeto.

Ponto de encontro - Em setembro, o Recife será ponto de encontro de cineclubes do mundo inteiro. Cerca de 500 pessoas estarão reunidas em torno de dois eventos: a 28ª Jornada Nacional de Cineclubes e um encontro da Federação Internacional de Cineclubes, da qual participam mais de 30 países. Segundo João Batista Pimentel Neto, secretário do Conselho Nacional de Cineclubes, esta será a primeira assembleia do gênero em um país não-europeu.

Pimentel diz que o encontro nacional coroa a retomada do processo de articulação do movimento cineclubista, iniciado em 2004. Hoje, o Brasil conta com aproximadamente 1.200 cineclubes. "O foco será na educação e na democratização do acesso aos bens audiovisuais. Vamos fazer um balanço dos últimos anos, eleger uma nova diretoria e estabelecer novas perspectivas". O local dos encontros deve ser definido com a Fundarpe, que ao lado do Ministério da Cultura, apoia os eventos.

(Diario de Pernambuco, 24/07/2010)

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