sábado, 10 de setembro de 2011

Lira do que virá



A partir deste domingo, o mundo será testemunha da reinvenção de um artista. É quando José Paes de Lira, o Lirinha, disponibilizará para download as músicas de seu novo álbum. Mais pop que nunca, Lira fica melhor a cada audição e já chega como sério candidato a melhor álbum do ano. As doze faixas refletem a necessidade de demarcar um novo território, ao mesmo tempo em que revelam um eficiente trabalho de estúdio. É o trabalho mais pessoal de Lirinha, que, por inquietações estéticas, encerrou o Cordel do Fogo Encantado em fevereiro de 2010.

A expectativa em torno do trabalho solo aumentou com o anúncio da banda, um power-trio formado por Pupillo (Nação Zumbi), Bactéria (ex-Mundo Livre) e Neilton (Devotos). Além de tocar uma bateria stand-up (com três tons, construída especialmente para o projeto), Pupillo assina a produção, mixada em Paris.

As participações são mais que especiais: Otto e Ângela Rô Rô cantam em Valete; Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e Miguel Marcondes (Vates e Violas) tocam violões em Sidarta; em sua última gravação em estúdio, Lula Côrtes toca tricórdio em Adebayor; outros convidados são Bozó, Maestro Forró, Sidclei e João Diniz Paes de Lira, filho de Lirinha. O álbum também demarca uma nova fase de Lirinha como cantor, mais contida e livre para experimentar novos timbres e texturas. “Tudo isso é muito novo pra mim. São canções melodiosas, tive que me reinventar como intérprete”.

Por mais ostensivo que fosse o culto dos fãs do Cordel, Lirinha sempre foi maior que o grupo. Em seu processo de rompimento, o regionalismo deixou de ser central para ser um elemento a mais em sua música. O compromisso com a poesia, no entanto, continua visceral. Lira, diz o Houaiss, é “repertório de letras de música popular reunidas em um volume”, ou “a poesia lírica; o estro, a inspiração, a arte poética”.

Lira parte de uma vontade urgente e legítima de ser novo, diferente. Arrisca e acerta. Tem muito de viciante. Mas principalmente, aponta para a importância de mudar, para que continuemos a nos reconhecer.

Entrevista >> Lirinha: “É a primeira vez que faço uma poesia tão pessoal”

Você está lançando material na internet no 11 de setembro, uma data bastante simbólica…
Na verdade não procurei uma data especial. Desde que terminamos o disco, já tinha o plano de lançá-lo na internet 15 dias antes do lançamento do CD, em outubro, e do primeiro show, que será em Natal. Escolhi o 11 de setembro, que marca a emancipação de Arcoverde e de uma série de cidades vizinhas. Mas sei que é também uma data impossível de se desvincular do ataque às Torres Gêmeas. Mas é um dia de desfiles em Arcoverde, então vou ajudar a enfeitar isso.

Lira conta com ótimos músicos. Como foi o processo de criação?
Foi dificil sair de um grupo estabelecido, de agenda cheia, para outro esquema, onde nada estava armado. Quando comecei construir as melodias, me juntei com Pupillo e pensamos como usar a linha de baixo, sintetizadores. Daí parti para o trabalho de letras, tocava todas as músicas em casa. Tudo levou um ano e meio.

As músicas refletem anseios atuais ou algo que você cultiva há tempos?
Esse trabalho tem uma mudança de conteúdo muito forte. É a primeira vez que faço uma poesia tão pessoal, com o meu olhar. No Cordel não me sentia nesse direito, pois era parte de um grupo. Agora me sinto em total liberdade e muito instigado a usar outros recursos de escrita, que trago comigo desde que comecei a carreira, mas nunca tinha utilizado. As composições são atuais mas tem a ver com toda a minha trajetória.

A sonoridade é bem diferente do que você vinha fazendo com o Cordel, que era mais ligada ao sertão. Por que você “desgarrou”?
Para encontrar a minha própria música. Fui pra um interior meu e nunca me senti tão autor. Por outro lado, minha lógica poética continua ligada a uma escola primeira, a dos cantadores. O exercício de ruptura com vem ocorrendo há alguns anos, desde que incorporei João Cabral, Alberto da Cunha Melo e as minhas próprias letras, que apontavam parra outras possibilidade que não a poesia trovadoresca, medieval.

Com o componente geográfico superado, que lugar você sente ocupar?
Estamos na década de 10, algumas discussões estão superadas. Nos anos 1990, tínhamos a necessidade de diferenciação territorial, devido à globalização e o surgimento da internet. E a música tinha objetivo de levantar bandeiras, por exemplo, misturar eletrônico e regional, para mandar o recado de ser cosmopolita e raiz. Isso foi perdendo o sentido, hoje fazemos música com todos os elementos possíveis, sintetizador, piano acustico, guitarra. Tudo está em transição, talvez esta geração esteja fazendo os últimos CDs. É como a metáfora das raizes e árvores. As raízes caminham, nos movimentamos. Isso é muito importante na construção da minha identidade.

Você tem shows marcados em Natal e São Paulo. Quando se apresenta no Recife?
Recife é forte, é a nossa casa. Quero chegar em novembro, com o show mais maduro.


(Diario de Pernambuco, 10/09/2011)

2 comentários:

Wesley Prado disse...

André, acho que teu texto foi "clonado" aqui: http://www.darciorabelo.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2969:lirinha-retorna-com-disco-solo-e-traz-mais-guitarras&catid=1:arcoverde-news&Itemid=17

Dá uma olhada nisso.

Lira realmente vem com tudo. Grande disco.

No mais, seus textos são ótimos, sempre que posso também leio no jornal.

Grande abraço.

Wesley Prado disse...

De nada, Andre.
Quando vi aquilo, não tive como não correr pra avisar.
Valeu pela visita - e espero que retorne outras vezes.
Grande abraço.