terça-feira, 13 de setembro de 2011

Dura vida de atriz



Em cartaz no Cinema da Fundação, Riscado (Brasil, 2010), de Gustavo Pizzi, é um filme sofisticado e artesanal, na verdade feito a quatro mãos. Casado com a atriz Karine Teles, que também assina o roteiro, o diretor encontrou no cinema a forma de sublimar o ofício da esposa, que até então não havia sido reconhecida como tal. A declaração de amor surtiu efeito. Dois grandes festivais, o do Rio e o de Gramado, laurearam Karine como a melhor atriz do ano. “Minha vida é sua”, disse Karine para Gustavo, ao receber o Kikito em Gramado, onde o filme ainda recebeu prêmios pela direção, roteiro, trilha sonora e foi eleito o melhor pela crítica.

Filmado em bitolas digitais e analógicas, Riscado é mais um produto da Cavídeo, especializada em “tirar água de pedra”, ou seja, adequar pequenos orçamentos e ter como resultado bons filmes. E o de Gustavo talvez seja o melhor já administrado pela produtora carioca. O roteiro estabelece estética própria para três situações paralelas, costuradas pela busca da atriz em se realizar profissionalmente. Na primeira, a vemos na luta diária pela sobrevivência, encarando os ditames de um chefe arrogante, que promove festas com ações de marketing nas ruas do Rio de Janeiro. Com sorte, ela é chamada para animar aniversários e entregar presentes caracterizada de Marilyn Monroe, Bete Davis ou Carmem Miranda.

O desejo de se expressar na profissão que escolheu a leva a desenvolver com o marido uma peça de teatro, projeto abalado pelo convite de um diretor francês para estrelar seu próximo filme. A habilidade de Pizzi em conduzir a narrativa, aliada ao talento e entrega de Karine ao papel fazem de Riscado um dos melhores filmes nacionais do momento. Já nos primeiros minutos, o filme cativa pela verdade em seus olhos, em imagem trêmula, que fecha em Karine durante o teste de elenco para o filme. Um momento em estado puro, que deflagra a força de tudo o que virá depois.

(Diario de Pernambuco, 13/09/2011)

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