Aos poucos, a Fundação Joaquim Nabuco vem desenhando os contornos da nova gestão. Há menos de um mês, veio o anúncio do enxugamento do quadro, que a pedido do ministro da Educação, Fernando Haddad, mobilizará cerca de 25 a 30 cargos comissionados para duas secretarias recém-criadas pelo ministério, em Brasília. Agora, vem à tona a notícia de que as diretorias de cultura e documentação serão fundidas em uma única pasta, a Diretoria de Memória e Cultura, a ser assumida por Silvana Meireles.
Sexta-feira passada, a pedido de Fernando Freire, presidente da Fundaj, Isabela Cribari (cultura) e Rúbia Campelo (documentação) entregaram seus cargos. Uma nova diretoria, de formação, será criada para cursos de mestrado, de curta duração e qualificação de servidores.
Há temores pelo que virá, principalmente no que diz respeito a atividades reconhecidamente relevantes, como o Cinema da Fundação, a editora Massangana e o espaço destinados às artes plásticas. Paira sobre funcionários a suspeita de que a transição seja o início de um desmonte promovido pelo governo Dilma. E do lado de fora, a insatisfação pela ausência de um debate público.
“É um fantasma como vários outros”, diz Silvana, que atuou como diretora de cultura da Fundaj até 2002, quando partiu para atividades no Ministério da Cultura. “Não acredito que a presidente Dilma tenha coragem de mexer com uma instituição criada por lei há mais de 60 anos, com papel importante na região. Há recursos orçamentários e a vontade política de tornar instituição cada vez mais eficiente”.
As mudanças estruturais irão refletir nas quatro coordenações que estavam sob o comando de Cribari: a Editora Massangana, a Massangana Multimídia (da qual faz parte o Centro Audiovisual Norte-Nordeste), as gerências de artes plásticas e cinema, e a coordenação de Difusão Científico-Cultural. Há indícios de que os quatro departamentos se tornem uma única coordenação.
“Mais importante do que os cargos de chefia, que estão ali para cumprir uma temporada, a prioridade é fortalecer e aumentar o número de funcionários através de concursos. É importante ter um quadro de servidores que dê continuidade aos projetos”, argumenta Meireles.
Silvana garante que projetos consolidados não sofrerão riscos, até porque muitos foram implantados por ela. “Enxergo somente pontos positivos. A relação entre memória e cultura é bastante estreita. Será um desafio articulá-la através dos projetos. Essa proposta pode vir a fortalecer ambas as áreas”.
Ainda vai levar certo tempo até que o processo de transição termine e as novas diretrizes venham a público, mas Silvana adianta que os trabalhos serão organizados em torno de quatro eixos: memória, arte, cultura, educação. “As palavras chaves da minha gestão serão reflexão, inovação e acesso ao conhecimento”.
Dever cumprido - Após oito anos e meio, a produtora e cineasta Isabela Cribari entrega a gestão de cultura da Fundaj. De lá para cá, o balanço é claramente positivo. “Trabalhamos para efetivar uma política cultural sólida. Não cabe a mim decidir sobre a continuidade. Saio tranquila pelo que foi feito. As pessoas frequentam a Fundação como fosse uma casa, se apropriaram dela como um lugar público”.
Entre as principais ações de Cribari estão a implantação do Canne, do concurso de roteiros para documentário Rucker Vieira e da primeira etapa de um centro cultural no Engenho Massangana, a edição da Coleção Educadores (“o maior projeto editorial do país, com 200 mil coleções de 63 volumes, distribuído em escolas, bibliotecas e universidades) e a realização do projeto Poemas animados, cujo primeiro episódio, Morte e vida Severina (também editada em HQ), foi transmitido pela TV Escola para 50 mil unidades de ensino no Brasil.
“Cheguei em março de 2003 e em abril o projeto do Canne estava pronto. Ele representa os anseios de toda uma classe, de duas regiões do país, de oferecer acesso gratuito aos bens de produção e capatitação para o audiovisual”.
Um dos projetos mais recentes, o cine-educação, leva um kit com 26 filmes e livros para as salas de aula. “Trabalhamos nele há dois anos e lançamos a primeira oficina durante o Festival de Cinema de Triunfo, junto com o Conselho Nacional de Cineclubes e firmamos convênio com a Secretaria de Educação para levá-lo a mil escolas”.
Quanto aos novos tempos, ela não se arrisca a fazer previsões, mas alerta que, em outros “enxugamentos”, a Fundaj encerrou atividades em música, teatro e dança. “Não são só os cargos, mas as áreas que podem se extinguir. A grande contribuição da Fundaj é fazer esse link, ser o elo perdido entre a cultura e educação. É a única instituição colocar as linguagens artísticas na escola, promover a educação do olhar, a formação do ser humano pela arte. E trabalhei com paixão nesse sentido”.
(Diario de Pernambuco, 05/09/2011)
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