terça-feira, 27 de setembro de 2011

Cinema de fronteira



Vai começar o Festival Internacional de Cinema de Animação de Pernambuco - Animage 2011. A partir de sexta-feira, o público do Recife poderá conferir o melhor da produção mundial contemporânea, além de retrospectivas, oficinas e palestras. A principal novidade dessa terceira edição é que as atividades se estenderão por sete pontos da cidade: Cinema da Fundação, Centro Cultural Correios, Nascedouro de Peixinhos, Teatro do Imip, Cinema São Luiz e nos parques Dona Lindu e 13 de Maio. Todas as sessões têm entrada franca.

“Queremos chegar às pessoas, democratizar o acesso”, diz o idealizador e produtor do festival, Antonio Gutierrez. Para este ano, ele prevê um público de oito mil pessoas. Ano passado, só no Cinema da Fundação, 2.700 compareceram. De todas as idades, é bom ressaltar. “Na animação, há uma fronteira tênue entre público adulto e infantil. Mas alguns filmes não são para crianças, então criamos um bloco infantil”.

O festival inicia com chave de ouro nesta sexta, às 19h, tendo como filme de abertura o longa-metragem Alice (1988), do tcheco Jan Svankmajer, no Cinema da Fundação. Cultuado, o cineasta tem como admiradores ilustres Terry Gilliam e Tim Burton, cuja versão para o clássico de Lewis Carrol está léguas aquém da que será exibida logo mais. O filme integra uma mostra inédita do realizador no Recife, em 35mm, que inclui uma seleção de curtas.

“Svankmajer é um mestre. Abrir o festival com Alice será uma grande honra. Ele mistura como ninguém live action e stop motion e nos remete aos primórdios da animação, em que todos os efeitos eram feitos em stop motion. Poder exibir isso em plena era digital é sensacional!”, comemora a curadora do Animage, Nara Normande. Para compor a programação, Nara foi até o Festival de Annecy (França), o maior do gênero.

O resultado é uma programação de 66 filmes de 24 países, sendo 14 títulos inéditos no Brasil, como a produção japonesa Muybridge’s strings, de Koji Yamamura, e Oedipus, do premiado diretor holandês Paul Driessen. Já a mostra competitiva premiará com um total de R$ 13 mil os melhores curtas. O resultado será anunciado no próximo 7 de outubro, encerramento do festival.

De acordo com Nara, Alice é um bom definidor para a identidade que o Animage quer se inserir. “O festival vem dando grande importância às qualidades artísticas dos filmes. Buscamos longas que contem uma boa história, em técnica interessante, seja stop motion, 2D, recortes, areia, 3D ou lápis sobre papel”.

Ou seja, desenhos feitos com tecnologia de ponta e imagem cristalina, como Meu medo (PR), de Murilo Hauser, convivem com o intencionalmente “tosco” Céu, inferno e outras partes do corpo (RS), de Rodrigo John, e a técnica primitiva dos desenhos pintados no celuloide, como no curta Romance, de Georges Schwizegebel.

Profissionais tarimbados como o animador cearense Diego Aker, o carioca Marcelo Marão (de O anão que virou gigante) e o montador Eduardo Serrano (formado pela NFTS, uma das maiores escolas de cinema do mundo) participam das mesas e seminários, também gratuitos. A programação está no site www.animagefestival.com

(Diario de Pernambuco, 27/09/2011)

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