Com aplausos e vaias, a noite de abertura do 44º Festival de Brasília fez jus à tradição crítica do festival. E nesse sentido, a escolha de Rock Brasília – anos de ouro, documentário sobre a gênese da Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, não poderia ser mais oportuna. Quando seu diretor, Vladimir Carvalho, subiu ao palco com membros das bandas e familiares de Renato Russo, aproveitou para agradecer o apoio que o ex-ministro da cultura, Juca Ferreira, deu ao projeto, o que gerou aplausos. Logo depois, saudou a atual ministra, Ana de Hollanda, presente no evento. Vaias ecoaram ao pelo menos metade do Teatro Nacional. Muito foi mudado no Festival de Brasília, reflexo da troca de gestores na secretaria de cultura do Distrito Federal . Mas o crivo da plateia continua o mesmo.
Como anunciou o mestre de cerimônias, o ator José de Abreu, este ano o Festival de Brasília vai mostrar sua nova cara. Terá sessões promovidas simultaneamente no Cine Brasília e nas cidades satélites. Querem passar a imagem de um festival democrático, que está reagindo à falta de rumo a que estava relegado nos últimos anos. Com uma grandiloquência bizarra (e Xica da Silva como música ambiente), Abreu parecia falar de um picadeiro ou pior, de um palanque político. A presença do ex-ministro José Dirceu, Cacá Diegues e de Luis Carlos Barreto, que participam de seminário sobre novas perspectivas do cinema nacional, foi novamente reforçada como um dos grandes momentos do festival.
Como protesto, o realizador brasiliense Adirley Queirós retirou seu longa A cidade é uma só? da competição Primeiros Filmes. “Fazemos filmes buscando outra perspectiva estética e política (não partidária, e sim política). (...)Transformar o festival em um pastiche, em um moribundo com cara de qualquer coisa. Isso são avanços?”, diz o texto do realizador, enviado para a organização do festival. E estamos apenas no primeiro dia.
Se o cerimonial foi um anticlímax, Rock Brasília teve recepção calorosíssima, com o teatro lotado e gente sentada no chão. O filme faz um retrato afetivo, social e político de uma geração de artistas, filhos de diplomatas e acadêmicos que vieram para a capital federal. Coincide com a época em que Vladimir Carvalho passou a morar na cidade. Ele chama aos músicos de “moçada”, que hoje tem entre 40 e 50 anos. Aos 76, Vladimir certamente os enxerga com e olhos de pai orgulhoso. “Eles são um ensurdecedor exemplo de perseverança”, disse, no palco. No hotel JK, base do festival, o diretor disse em entrevista que na época não chegou a curtir aquelas músicas (ele gosta mais de MPB), mas que se ligou muito a Faroeste caboclo, que para ele, é uma espécie de cordel ou repente. “Se tivesse que eleger uma música era essa”.
Para os pernambucanos, uma boa notícia: seu próximo projeto pode ser um documentário
sobre Cícero Dias. “Tenho admiração antiga pelo Cícero Dias. Ele foi uma figura notável das artes plásticas brasileiras. Por sorte, o filmei no seu ateliê na França e durante uma exposição entrevistei a viúva dele. Me interessa a ligação do surrealismo com o imaginário nordestino”.
(Diario de Pernambuco, 28/09/2011)
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