sábado, 18 de julho de 2009

Mais impressões sobre Paulínia (escritas de um aeroporto)


Tony Ramos e Dan Stulbach em Tempos de paz: bom momento

O segundo Festival de Paulínia terminou ontem à noite. Daqui a pouco sai a matéria que fiz para o Diario (post acima).

Enquanto aguardo o avião para o Recife, nada como um blog para divagar sem preocupações com os limites de tempo / espaço de um jornal impresso.

Penso em como foi cobrir este festival. Ao mesmo tempo, um trabalho difícil e gratificante.

Primeiro, os obstáculos. Diferente do ano passado, a organização hospedou a imprensa no Hotel Royal de Campinas. Ou seja, todos os dias eram entre duas a quatro viagens de van para Paulínia, cada trecho com 30 a 40 minutos. Na ponta do lápis, em oito dias, foram em média 16 horas dentro de uma van.

Por tudo isso, foram dias bastante cansativos. À noite, havia os filmes em competição - dois curtas e dois longas, somados a um interminável desfile de vinhetas e logomarcas. Após a sessão, janta. Hotel entre 1h e 2h da manhã. No dia seguinte, as coletivas começavam às 10h, na prefeitura de Paulínia. Após o almoço, corrida para entregar as matérias dentro do prazo.

Problemas de translado à parte, há que destacar a vontade do evento em dar conta de todas as frentes que fazem um bom festival de cinema. Do começo ao fim, tivemos projeções com ótima qualidade técnica, mostras paralelas, exibições nos bairros, debates, seminários de todos os tipos. Não bastasse, duas festas bacanas – uma no sábado, promovida pela Quanta, e outra ontem, de despedida.

Quanto à programação da mostra competitiva, houve maus momentos, sim. Mas a maioria dos filmes e coletivas fizeram a vida de maratonista valer a pena.

É o caso do doc de Eduardo Coutinho, Moscou. A exibição foi um choque. Nos que permanceram, pois há quem não suporte algo tão fora do padrão. No dia seguinte, rendeu uma das melhores coletivas, se não, a melhor. Pena que Coutinho não esteve na noite de encerramento para receber o prêmio da crítica. A informação é que ele estaria no MoMa, em Nova York, onde sua obra está sendo exibida.

Eleito melhor filme pelo júri especial Olhos azuis, de José Joffily, foi alvo de críticas por trazer uma história muito esquemática e fatalista.


Joffily, melhor longa de ficção em Paulínia: 13 anos de projeto

Pode ser, mas isso não chega a ser um problema. O roteiro de Paulo Halm (cujos pais são de Pernambuco) tem seus méritos; a trilha de Jacques Morelembaum, com músicas de Siba Veloso e participação de Arlindo dos Oito Baixos é de uma beleza monumental; e o elenco deu um show de interpretação. Mais do que merecidos os prêmios de melhor coadjuvante para Irandhir Santos e melhor atriz para Cristina Lago.

Na noite de segunda-feira, Quanto dura o amor?, de Roberto Moreira, rendeu ótimos comentários no caminho de volta para o hotel. “Finalmente, um filme”, disseram alguns, escaldados pela traumática experiência de assistir Destino, uma peça de duas horas e R$ 10 milhões que não funciona como cinema, novela, ou mesmo catálogo turístico de paisagens do Brasil e leste asiático. Pode até ser que dê certo lá na China - na coletiva, a produtora Lucélia Santos disse que a ideia é atingir os 900 milhões de espectadores da TV de lá. No Brasil, não tem a mínima chance. Quem sabe como série de 35 capítulos, formato para que o roteiro foi pensado, há 13 anos.

Antes que o mundo acabe é um caso curioso. Não tem vocação se enquadra exatamente como filme de festival (chegou a ser questionado se ele deveria ou não ir direto para o circuitão). Ao mesmo tempo, foi um dos mais votados (prêmio da crítica mais cinco do júri oficial). De qualquer forma, graças a ele, tivemos outro momento bom.

Só dez por cento é mentira é um caso à parte. Impossível não se entregar a poesia de Manoel de Barros. Dá até pra encarar vacilos como a voz em off do diretor Pedro Cezar e excessos cometidos pela pretensão de “traduzir” o espírito do poeta para a linguagem audiovisual.

Parece ter sido dificil a disputa pelo troféu de melhor atriz principal. Todas mereciam. A opção do júri pelo prêmio coletivo foi conciliadora, mas meio covarde. Paulínia parece ainda não ter maturidade para o embate saudável que pode surgir em um festival.


Spinelli...


... e Lago

Fica o protesto pelo completo abandono da portuguesa Maria de Medeiros, que acertou no papel da professora Marguerit na produção mineira O contador de histórias.

Quanto aos curtas, bem, com exceção dos vencedores, estão abaixo de qualquer comentário. Fica a esperança que no ano que vem a curadoria seja um pouco mais seletiva. Opção não falta.

Foi uma festa de premiação das mais estranhas que assisti na minha curta carreira de coberturas. Como apresentador, Murilo Benício se mostrou um bom troglodita. Trocou nomes, improvisou piadas de mau gosto e transpareceu um desânimo quase burocrático.

A sessão de Tempos de paz, novo longa de Daniel Filho, foi o ponto alto da noite. Longe do trabalho que fez em Se eu fosse você 1 e 2, o diretor mostrou verve criativa ao adaptar para o cinema o texto que há meses está em cartaz nos teatros com os mesmos atores: Tony Ramos e Dan Stulbach.

Após o filme, até Benício virou gente.


Tempos de paz, de Daniel Filho, estreia em agosto no circuitão

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