sexta-feira, 17 de julho de 2009

Festival de Paulínia encerra mostra competitiva


Antes que o mundo acabe - inteligência e apelo pop

Paulínia (SP) – Os longas Hebert de perto, documentário de Roberto Berliner, e a ficção gaúcha Antes que o mundo acabe, de Ana Luíza Azevado, encerraram na noite de quarta-feira a maratona de 12 longas e 12 curtas do 2º Festival Paulínia de Cinema. Foram seis dias de competição, uma programação que, de forma ascendente, representou a diversidade que hoje é o cinema brasileiro. O voto da crítica, decidido ontem pela manhã, elegeu Moscou, doc de Eduardo Coutinho e Antes que o mundo acabe. Resta agora saber quais receberão o troféu Menina de Ouro pela eleição do público e júri oficial, formado pelo escritor Zuenir Ventura, o exibidor Adhemar de Oliveira, a roteirista Elena Soarez, o diretor João Jardim, a diretora de programação da HBO Maria Ângela de Jesus e a atriz Sandra Corveloni.

Romance de formação sobre duas rodas, Antes que o mundo acabe reafirma a marca da Casa de Cinema de Porto Alegre em fabricar filmes bem acabados, inteligentes, de pegada pop sem abrir mão do tempero gaúcho. Conta narra a vida de Daniel, um menino de 15 anos que vive em Pedra Grande, cidade com 16 mil habitantes e oito mil bicicletas. Para a família é só variação de hormônios, mas Daniel está perdendo a namorada para o melhor amigo. Não bastasse, o pai biológico, um fotógrafo que foi morar na Tailândia, começa a fazer contato via envelopes com muitas imagens e histórias exóticas e pessoais. A trilha sonora que lembra Belle and Sebastian (há duas músicas da banda Os Darma Lovers) alterna entre o tom “folk fofo” e rock’n’roll, de acordo com as oscilações de humor do protagonista.

Com rara capacidade de se comunicar diferentes faixas etárias, o filme de Azevedo deve consolidar boa carreira no circuito comercial. A diretora gaúcha despontou em 1989 com o curta Barbosa, co-dirigido por Jorge Furtado, sócio mais famoso da Casa de Cinema, empresa que se projetou a partir de Ilha das Flores, de Furtado. De lá para cá, acumula nove filmes, todos de curta duração, entre eles Dona Cristina perdeu a memória, eleito melhor curta de 2003 pelo Cine PE. Foi também assistente de direção de quase todos os longas de Furtado (Meu tio matou um cara, O homem que copiava), com quem assina a série global Decamerão, que vai ao ar no fim deste mês.

Produção independente, Antes que o mundo acabe é baseada em livro homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha, que Azevedo conheceu através de seus filhos. “Acho bárbaro que existam mais filmes para essa faixa etária, fundamental para formação de público para o cinema brasileiro”, disse a diretora, em conversa com o Diario. “Até pouco tempo, os jovens não tinham interesse em ver filmes brasileiros. É um trabalho árduo ganhar esse público”.

Um dos melhores documentários do festival, Hebert de perto, de Roberto Berliner e Pedro Bronz, se mostrou bem resolvido enquanto linguagem, algo raro na atual onda de filmes sobre personalidades da MPB recente, que tem em Nelson Motta sua figura mais fácil e cansativa.

Desta vez, nada de “especialistas”. Diretor de vários clipes dos Paralamas do Sucesso, Berliner reuniu a família de Hebert Vianna (o que inclui os companheiros de banda, o produtor e o amigo Dado Villa Lobos), fez uso das próprias imagens de arquivo e da proximidade que tem com o compositor para mostrá-lo na intimidade, como o título sugere. A proximidade foi tanta que há depoimentos de Hebert entre o closet e o banheiro da suíte onde dorme.

Grande sacada de Berliner e Bronz foi editar o primeiro show da banda no Circo Voador e apresentações da turnê de 2006 como se fosse uma só. Cinema como ponte entre o jovem de óculos vermelhos e camiseta do Mickey Mouse com o homem de cadeira de rodas, renascido do acidente aéreo, tudo no mesmo palco.

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