segunda-feira, 13 de julho de 2009

Festival de Paulínia // Duas faces do riso


Destino, de Moacyr Góes - uma trapalhada e tanto

Na noite de sábado, muitas risadas ecoaram no Theatro Municipal de Paulínia. Primeiro, com a exibição de Mamonas - doc, sobre os Mamonas Assassinas. O filme é na verdade uma edição da pesquisa feita por Cláudio Khans, levantamento para a ficção Mamonas - the movie, anunciado para 2010.

Nos anos 90, a banda-piada ganhou o Brasil no melhor estilo "quanto mais ridículo melhor". Se naquela época sua simples existência soava aviltante, o que dizer de um revival, 15 anos depois? Como diriam os antigos, a resposta veio a cavalo. Após os 85 minutos de projeção, o longa foi aplaudido de pé.

No intervalo entre os longas, uma pausa para homenagear a atriz Eva Wilma e seu mais de meio século de carreira. "A arte é o melhor meio de comunicação que existe, porque quando nos atinge jamais seremos os mesmos", disse a atriz.

Assim que as luzes se apagaram, as risadas voltaram a dominar o teatro. Desta vez, não para as palhaçadas dos Mamonas, mas para o melodrama Destino, projeto acalentado por Lucélia Santos há 13 anos, ao custo de mais de R$ 10 milhões. Exibido pela primeira vez no Festival de Xangai, o filme é uma co-produção Brasil / China falada em inglês, português e mandarim, e fez sua estreia nacional em Paulínia. A história se estende por 18 anos da vida de uma jornalista (Lucélia Santos) obstinada em fazer uma reportagem sobre as relações entre China e Brasil.

Problemático em quase todos os sentidos, Destino é o que se pode classificar como uma bomba em longa-metragem. Longe de ser cinema, está mais para uma versão piorada das novelas que a própria Lucélia Santos estrelava nos anos 80, com direito a intervalos comerciais - os 18 patrocinadores aparecem num bloco só, na metade do filme. Diretor contratado, não é difícil imaginar porque Moacyr Góes não compareceu à exibição.

Durante coletiva de imprensa, mediada por Rubens Ewald Filho na manhã de ontem, a produtora alegou que as exigências dos patrocinadores e censura do governo chinês, que proibiu sequências de sexo e violência, teriam prejudicado a montagem, da qual participaram oito profissionais. Explicou que tudo começou com a novela Escrava Isaura, exibida na China em 1985, e que rendeu o convite para fazer algo parecido para o país asiático. A opção pelo melodrama foi feita visando o gosto do público chinês. "Quero que esse filme seja visto por milhões de pessoas. Na TV chinesa, posso ter 900 milhões de espectadores. Eles têm um temperamento mais ingênuo do que o público brasileiro, gostam de dramas, que falam de honra, orgulho ferido, traições".

De forma que o roteiro original, concebido para dar suporte a uma série de 25 capítulos, foi modificado para longa-metragem para atender exigências da Ancine, uma das patrocinadoras. "Passamos anos inventando essa história, que tinha tudo para não acontecer. Tinha todos os elementos para desistir, mas meus oráculos diziam para continuar", disse Santos, que defendeu a obra sem muita convicção, admitiu erros e lembrou que este é um produto que visa o mercado internacional.

"Foi o que consegui. É claro que gostaria de fazer um grande filme, de ter chegado à perfeição. Mas o roteiro tem inúmeros problemas e a direção poderia ter costurado nossas fragilidades de outra forma. Com compromissos assumidos, tive que concluir da melhor forma possível. Gostaria que fosse um bebê Johnsons, mas se esse é o que tenho, vou assumi-lo porque sou profissional e não posso jogar fora esse investimento importante para abrir novos mercados para o cinema brasileiro".

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