segunda-feira, 13 de julho de 2009

Festival de Paulínia // Paulo Francis fala alto


Paulo Francis no Manhattan Connection

Até o momento, a programação do 2º Festival Paulínia de Cinema não tem sido das mais emplogantes. Dos quatro longas exibidos no fim de semana, tivemos o questionável Mamonas, o doc, de Cláudio Khans e o indefensável Destino, de Moacyr Góes.

Este último, folhetim melodramático produzido, estrelado e defendido por Lucélia Santos como a primeira produção Brasil / China, foi recebido por crítica e público com gargalhadas incontidas. Neste contexto, o mineiro O contador de histórias, de Luiz Villaça, e o documentário Caro Francis, de Nelson Hoineff escapam praticamente incólumes, na noite de sexta-feira.

Personagem de si mesmo - o próprio Francis se considerava "um dos últimos dinossauros a emitir opinião" - aqui temos um dos mais controversos personagens do jornalismo brasileiro na intimidade de seu apartamento em Nova York (onde viveu a partir de 1971), com a esposa Sônia, rodeado por gatos (predileção compartilhada com Hoineff), e nos bastidores dos programas onde, dependendo do humor, xingava as telefonistas ou cantava marchas de carnaval.

Há dois meses, Hoineff fez graça que beirou o mau gosto com Alô Alô Terezinha! , eleito pelo público como melhor filme do Cine PE. Agora apresenta um filme bem mais sóbrio e pessoal, mas igualmente tendencioso, no sentido manipulador da palavra. Isso fica claro quando vem à tona a briga que Francis teve quando colunista da Folha de São Paulo, Caio Túlio Costa, que na época ocupava a função de obmudsman.

Na edição, o comentário equilibrado de Costa teve interferência de Diogo Mainardi, que insultou Costa de várias formas, inclusive evocando a alcunha de "lagartixa pré-histórica", desferida por Francis nas páginas do periódico.

Costa revidou chamando o oponente de "barata descascada", mas isso não consta no doc de Hoineff, que dá conta de sua origem no teatro dos anos 50 ao polêmico episódio de sua morte em 1997, por ataque cardíaco e sob processo de US$ 100 milhões aplicado pela Petrobras. "Foi um assassinato à distância", disse Hélio Costa, um dos responsáveis pela entrada do jornalista na Rede Globo.

O único momento "Chacrinha" se dá no depoimento de Sérgio Augusto, que fala no sofá enquanto a câmera enquadra seu cachorro de barriga para cima, como se estivesse morto. Há também um bloco pernambucano dentro do filme, que mostra a banda Paulo Francis Vai Pro Céu em estúdio e aproveita para tocar em outro episódio delicado, em que Francis critica o povo nordestino para atacar a indicação de Gustavo Krauze como Ministro da Fazenda, em 1992.

A coluna, reproduzida no Jornal do Commercio, deu o que falar. E culminou em seu cancelamento, como explica o atual diretor de redação do JC, Ivanildo Sampaio. Procurado pela equipe de Hoineff, Krauze relativizou a celeuma, dizendo que pessoas como Francis são importantes para quebrar com a "vulgata marxista". "Pensamos que ele fosse descascar o Francis, mas isso não aconteceu", conta Hoineff, na coletiva para a imprensa.


Cena de O contador de histórias

Fábula na Febem - Apesar do viés engessante do politicamente correto, O contador de histórias tem a seu favor uma narrativa esperta, capaz de escapar das armadilhas inerentes ao apoio da Unicef / Criança Esperança, uma das tantas logomarcas presentes antes dos créditos iniciais. O filme ficciona a história de Roberto Carlos Ramos, considerado um dos maiores contadores de história do país. Tudo a partir do depoimento do próprio Ramos que, ainda criança, foi levado à Febem pela própria mãe, sem condições de criá-lo. Aos 13 anos, Ramos era considerado irremediável, até que entra em cena Margherit (ótima Maria de Medeiros), pedagoga francesa determinada em provar o contrário.

Com trilha sonora de André Abujamra, o filme investe em sequências de fantasia que despertaram reações positiva na platéia, que traduzem artifícios de memória para a linguagem do cinema pop dos anos 70 - há referências musicais e visuais ao grupo Jackson 5 e Sgt. Pepers, dos Beatles. Vale registrar participação especial do ator Chico Diaz, como uma espécie de "homem da cobra", inserido no momento de virada do personagem, que aprende ali o valor de uma história bem contada.

Nenhum comentário: