sábado, 18 de julho de 2009
Festival de Paulínia // A noite de premiação
Crédito das fotos: Aline Arruda / Divulgação
Paulínia (SP) – A festa de premiação do 2º Festival Paulínia de Cinema, na noite da última quinta-feira, foi uma grande confusão em que ninguém sabia exatamente o que fazer. Estrutura havia de sobra, mas faltou logística na organização do palco. Nem mesmo o casal de apresentadores Murilo Benício / Guilhermina Guinle, perdidos e dependentes de um equivocado teleprompter, conseguiram manter o controle da situação, quando uma dezena de premiados foram de uma só vez chamados ao palco. Representantes da administração municipal, a dona do evento, transpareciam desconforto no papel de anfitriões do mundo do audiovisual, reunido anteontem para a entrega dos troféus Menina de Ouro. Possível reflexo do escândalo que afastou do cargo o prefeito da cidade, sob suspeita de compra de votos.
Paulínia quer ser vista como um festival democrático, capaz de transitar entre filmes “cabeça” e populares. Nesse sentido, a distribuição de troféus, feita de forma equânime, pode ser consequência dessa política. Olhos azuis venceu em seis categorias, inclusive o prêmio principal, no valor de R$ 60 mil. “Ninguém pediu para que esse filme fosse feito. Dedico esse prêmio ao voluntarismo de todos os artistas”, discursou José Joffily, o diretor. Eleito melhor ator coadjuvante pelo papel de Nonato, o imigrante brasileiro em solo norte-americano, o pernambucano Irandhir Santos foi simples e direto: “já me sinto agraciado por exercer a função de ator neste país. Agora, volto pra casa acompanhado por uma bela ‘menina’”.
Irandhir Santos contracena com David Rasche...
... e recebe o prêmio de melhor ator coadjuvante
Romance de formação sobre duas rodas, Antes que o mundo acabe, de Ana Luiza Azevedo foi um dos grandes destaques do festival. Nada mais justo do que receber o prêmio da crítica e ter sido escolhido em cinco categorias pelo júri oficial (formado por Zuenir Ventura, Adhemar de Oliveira, João Jardim, a roteirista Elena Soarez e a diretora de programação da HBO, Ângela de Jesus).
Antes que o mundo acabe, de Ana Luíza Azevedo levou cinco troféus
No momento máximo de generosidade do Júri, três atores e três atrizes principais receberam troféus: Silvia Lourenço e a transexual Maria Clara Spinelli, de Quanto dura o amor?, e Cristina Lago (atriz-revelação de Olhos Azuis); e Marco Ribeiro, Paulo Mendes e Cleiton Santos, pelo papel do contador de histórias Roberto Carlos Ramos nas fases criança, jovem e adulto. “Quando eu era criança, sempre quis ter uma boneca mas nunca me deram. Agora tenho uma Menina de Ouro!”, provocou Spinelli.
Da ficção aos documentário (ainda precisamos promover esse apartheid?), os holofotes iluminaram Só dez por cento é mentira, um elogio ao poeta Manoel de Barros e Hebert de perto, de Roberto Berliner e Pedro Bronz. Diretor de vários clipes dos Paralamas do Sucesso, Berliner conversa com família e amigos de Hebert Vianna, faz uso das próprias imagens de arquivo e da proximidade que tem com o compositor para mostrá-lo na intimidade, como no depoimento que Hebert dá entre o closet e o banheiro da suíte onde dorme.
Coube à crítica lembrar o valor de Moscou, doc em que Eduardo Coutinho expande a investigação que apaga as fronteiras entre real e fictício, memória e invenção. “Não sei o que fiz nesse filme”, disse, angustiado, ao apresentar o filme no dia da exibição. Frase que seria muito mais adequada à atriz / produtora Lucélia Santos com relação ao sofrível Destino, filme que sequer deveria existir, quando mais figurar entre as produções escolhidas para o festival, que ali atingiu seu momento mais lamentável.
O prêmio do público para Caro Francis demonstra o talento de Nelson Hoineff em se comunicar com grandes platéias. Fazem pouco mais de dois meses que Alô Alô Terezinha!, também de sua autoria, foi eleito pelo júri popular como o melhor do Cine PE. “Faço filmes para serem vistos. É um erro pensar que há falta de preparo no público. Ele é muito mais sábio do que se imagina”, disse o diretor.
Os curtas Timing, de Amir Admoni, e Spectaculum, de Juliano Luccas, foram os melhores de suas categorias. O primeiro usa efeitos especiais para prender o ator Caco Ciocler (que contracena com o pai, Jackson) no painel de uma estação de metrô. O segundo apresenta a vida de um palhaço fora do picadeiro, como fosse um documentário de inclinação artística, coroado pelo depoimento de que, “para ser palhaço, precisa ser muito intelgente”.
Stulbach - boa atuação
Elogio ao teatro – Antes da premiação, foi exibido Tempos de paz, sétimo longa de Daniel Filho, com presença dos atores principais, Tony Ramos e Dan Stulbach. Baseado no livro Novas diretrizes para tempos de paz, de Bosco Brasil, o filme é algo mais teatral do que televisivo, o que conta pontos a favor do diretor de Se eu fosse você. Em bem-vindo viés autoral, Filho conta a história de Clausewitz (Stulbach), ator polonês que, com o fim da 2ª Guerra é impedido de entrar no Brasil ao esbarrar na burocracia ressentida do oficial de imigração Segismundo (Ramos). A homenagem aos imigrantes Anatol Rosenfeld, Nydia Lícia, Otto Maria Carpeaux e Zbigniew Ziembrinski faz de Tempos de paz um elogio ao teatro e ao ofício do ator foram arrebatadoras e responsáveis pelo ponto alto e de maior comoção do encerramento do 2º Festival de Paulínia.
* o repórter viajou a convite do evento.
(Diario de Pernambuco, 18/07/09)
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