quarta-feira, 13 de julho de 2011

A vez da Febre em Paulínia



Paulínia (SP) – Febre do rato, novo filme de Cláudio Assis, será exibido pela primeira vez na noite de hoje, encerrando a mostra competitiva do 4º Festival Paulínia de Cinema. Estrelado por Irandhir Santos e Nanda Costa, o filme ainda traz Matheus Nachtergaele, Juliano Cazaré e Vítor Araújo no elenco. A equipe é formada por gente que desde sempre acompanha o diretor: Walter Carvalho (fotografia), Renata Pinheiro (direção de arte), Hilton Lacerda (roteiro). A trilha sonora é de Jorge Du Peixe (Nação Zumbi). Para prestigiar o evento, marcam presença os diretores Marcelo Gomes, Lírio Ferreira e Karen Harley, a atriz Hermila Guedes, Mariah Teixeira, o jornalista e escritor Xico Sá e os músicos Junio Barreto e Lirinha.

Paulínia quer investir na imagem de festival democrático, daí podemos entender a presença de Febre do rato na seleção deste ano. Dependendo de seu teor, um produto autoral e sem concessões pode se tornar corpo estranho no festival, afeito a celebridades e lançamentos comerciais. Como o próprio Assis, que não mede palavras ao dizer o que pensa. No entanto, com exceção de sexta a noite, quando criticou um dos filmes em competição e classificou com palavrões os “mangueboys da prefeitura do Recife”, o diretor tem se mostrado distante da figura beligerante que forjou ao longo da década. Ele sabe que o páreo com Selton Mello e seu O palhaço será duro. A produção é “filha” de Paulínia tem qualidades de sobra para ganhar os troféus principais.

Com distribuição garantida pela Imovision, Febre do rato ainda não tem data de estreia no circuito comercial. Certamente não será em 2011. No entanto, Claudio visualiza uma première no Recife ainda este ano. E já esboça dois novos filmes, um baseado em livro inédito de Xico Sá e outro, em livro infantil escrito por Paulo Lins, autor de Cidade de Deus.

A expectativa em torno do filme tem sido grande. Nove anos após se lançar nacionalmente no Festival de Brasília, Claudio Assis retorna ao Recife como cenário, o que permitirá a revisão de locações emblemáticas como o bairro da Boa Vista, os bares do Pátio de S. Pedro e favelas do centro da cidade. Antes de estrear, o filme chamou a atenção pela repressão policial sofrida durante as filmagens na Rua da Aurora, em que Irandhir, Nanda e outros atores tiraram a roupa publicamente. Publicada primeiro pelo Diario, a notícia repercutiu nacionalmente. Para o diretor, as cenas de nudez não deveriam causar tanto espanto ou causar a ação armada. “O ator tirar a roupa com a rua fechada não tem nada de violento. Violência são esses programas policiais que todo dia passam para as crianças na TV. As pessoas que moram na favela são tratadas de qualquer jeito e depois a classe média não quer a porrada como resposta”.

Não se sabe se a bordoada supracitada - ou qualquer outra - estará na película. Provavelmente sim. No entanto, o diretor define a nova cria como um filme de poesia. “Consegui imprimir coisas que não cabiam em Amarelo manga. É o nosso olhar sobre a vida, o quanto se paga para ser quem você é. Até se encontrar, as pessoas se enganam”, disse o diretor. Febre do rato é também um retorno a fotografia em preto e branco, já experimentada no curta Soneto do desmantelo blue (1993), baseado em obra do poeta Carlos Pena Filho. De acordo com o diretor, não houve muito dilema. “Não tenho tempo para crises. A opção pelo preto e branco foi feita em equipe, para privilegiar a poesia. E a fotografia PB e ideal para isso”.

A solidão artística tampouco tem sido problema para Claudio. “Dizem que eu sou terrível. Sou nada, sou uma besta, um romântico anacrônico. Não importa o que eu sou, o que importa são os filmes. Aprendi cinema fazendo cineclube, não na faculdade, e no tempo em que cineclube não era chapa-branca que é hoje”.

Na produção atual, cita poucos autores com os quais se identifica: Eduardo Nunes, Beto Brant, Hilton Lacerda, Camilo Cavalcante (“que está fazendo o primeiro longa”), Kleber Mendonça Filho (“estou louco pra ver o filme dele”) e Marcelo Gomes. “Aumentou a produção no Brasil, o governo Lula teve muito a ver com isso, em Pernambuco o governo estadual está bem atuante. Novos olhares vão surgir. E cada um faz o que quer, tem quem queira o cinemão de Hollywood, tem quem queira ir pra Globo. O meu cinema é plugado no social e no compromisso com a arte”.

(Diario de Pernambuco, 13/07/2011)

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