sábado, 9 de julho de 2011

Segredo japonês



Paulínia (SP) – Com a exibição do longa Corações sujos, teve início na última quinta-feira o 4º Festival Paulínia de Cinema. A casa estava cheia - o imponente Theatro Municipal – e muitos aplausos foram provocados pelo filme de Vicente Amorim, baseado em livro homônimo de Fernando Morais. A cerimônia de abertura reuniu realizadores e artistas dos filmes que serão exibidos durante o evento, que termina na quinta-feira. Estavam lá o ator Paulo José, protagonista de O palhaço, de Selton Mello; Cláudio Assis, diretor de Febre do rato; Vladimir Carvalho, diretor de Rock Brasília – anos de ouro; e o casal Carlos Aberto Ricelli e Bruna Lombardi, de Onde está a felicidade?, dirigido por Ricelli.

Corações sujos se passa em 1946 e aborda a tragédia que recai sobre colônia de imigrantes japoneses recém chegada ao Brasil, quando um deles, um militar do império, se recusa a acreditar que o Japão perdeu a guerra e persegue os “corações sujos” que admitem a derrota. Por outro lado, recém-chegados ao Brasil, o grupo sofre com a Lei de Repressão aos Súditos do Eixo, que limitava sua vida social e declarações de amor à bandeira do Sol Nascente. A atmosfera de abandono e cenas de luta à bala e espadas remetem a um interessante cruzamento de filmes de faroeste e samurai.

É uma história de amor e sangue, sobre a manutenção de uma honra distorcida, que perdeu o sentido em outro tempo e espaço. O filme se passa no Brasil, mas é falado 99% em japonês. Traz mais “legitimidade” ao projeto a presença do ator Tsuyoshi Ihara como protagonista. Ele faz parte do elenco principal de Cartas para Iwo Jima (2006), de Clint Eastwood, que também se passa na Segunda Guerra Mundial. “Antes de ler o roteiro confesso que não conhecia essa história, porque a educação japonesa omite informações desse tipo. Mas como sou neto de coreanos, para mim foi fácil entrar na pele de um imigrante que sofre em outro país”, conta Ihara.

Em Corações sujos, ele é Takahashi, fotógrafo que se apaixona pela professora Miyuli (Takako Tokiwa), mas que se perde espiritualmente ao cumprir ordens de Watanabe (Eiji Okuda) para executar os japoneses “infiéis”. Na vila há um núcleo brasileiro, liderado pelo sub-delegado (Eduardo Moscovis), que pouco faz para proteger os perseguidos.

Fernando Morais disse que não encontra muitos paralelos entre Corações sujos e Olga, outra adaptação de obra sua para o cinema. “Olga está mais próxima do livro. Em Corações, Amorim tomou a liberdade dramatúrgica de incluir a mulher na trama, sem desvirtuar a história real”.

A escolha de Corações sujos para abrir o festival foi acertada, dada a forte presença da cultura japonesa no interior de São Paulo, onde se passa a história, e o fato de ter sido filmado nos estúdios de Paulínia, que entrou também com o financiamento de parte da produção, assinada pela Mixer, Downtown e Globo Filmes. Afora o melodrama excessivo (a trilha sonora ao som de violinos é redundante), o filme tem qualidades e deve render boa bilheteria no fim de outubro. Tudo isso fará bem ao polo, que tem investido milhões para ser referência nacional.

Humor - Antes do filme, a dupla de humoristas Leandro Hassun e Marcius Melhem, do programa televisivo Os Caras de Pau, acabaram com qualquer protocolo que cerimônias de abertura costumam ter. Foram várias as piadas ferinas, das quais nem mesmo os organizadores da festa, o secretário de cultura e o prefeito de Paulínia, escaparam.

Rita Lee - Este ano o Festival de Paulínia também é de música. Depois do filme, Rita Lee se apresentou ao lado do Theatro, em uma super-estrutura montada especialmente para o evento. Outras atrações são Seu Jorge, Vanessa da Mata, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

(Diario de Pernambuco, 09/07/2011)

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