segunda-feira, 11 de julho de 2011

Festival de filmes venezuelanos no Cinema São Luiz



Pernambuco tem uma ligação especial com a Venezuela: o general Abreu e Lima, que lutou com Bolívar pela libertação da América espanhola. A refinaria que está sendo construída em Suape leva o nome do militar por causa de uma parceria ainda não efetivada pelo presidente Hugo Chávez , admirador do herói da independência. São afinidades históricas e comerciais que, com o apoio do governo do estado e do Consulado da Venezuela no Recife, neste mês de julho começam a tomar forma de intercâmbio cultural através do Mês da Venezuela em Pernambuco.

A Semana de Cinema Venezuelano no Cinema São Luiz, que começa hoje às 19h, faz parte desse movimento. Os quatro filmes do festival foram escolhidos de forma a representar a diversidade do atual momento do cinema venezuelano. São eles: Postais de Leningrado (hoje), a comédia Eu gosto (amanhã), o documentário Quando a bússola marcou o sul (quarta); e o drama histórico Venezzia (quinta). Este último, informa o programador Geraldo Pinho, será colocado em cartaz no Cinema São Luiz como um primeiro passo para um diálogo que pode levar a produção pernambucana para os cinemas da Venezuela.

Diretora de Postais de Leningrado, Mariana Rondón está no Recife e conversa com o público no final da sessão. Ambientado nos anos 1960, o filme foi exibido no Brasil na Mostra de São Paulo, no Cinesul do Rio de Janeiro e em 2008 foi eleito o melhor Cine Ceará. Sua protagonista é uma menina de dez anos, que recria o desaparecimento dos pais guerrilheiros com humor e fantasia (há trechos de animação). Em entrevista ao Diario de Pernambuco, ela fala sobre seu trabalho, a situação do cinema em seu país.

Entrevista >> Mariana Rondón: “O cinema latino-americano sempre foi político”
Postais de Leningrado trata de drama comum aos filhos dos que resistiram às ditaduras latino-americanas. Tem a ver com a sua história pessoal? É uma história pessoal, uma autobiografia. Talvez as coisas não fossem como as conto, mas nas minhas recordações eram assim e tratei de respeitá-las, assim como meus esforços para reconstruir as histórias, para entendê-las. Eu sabia pequenos segredos e sabia que existia um perigo e a partir disso tratei de reconstruir o que aconteceu com meus pais. Ao ser tão pessoal não me atrevo a generalizar em relação a outros países mas, sim, creio que nos últimos anos surgiram filmes similares em outros países do continente, que abordam os movimentos políticos dos anos 1960 e 1970 do ponto de vista infantil.

Tramas marcadas pela política e o embate ideológico estão presentes em pelo menos três dos quatro filmes apresentados na mostra do Recife. Isso reflete o atual momento de seu país? Postais é fundamentalmente um filme sobre o medo e como ele pode ser utilizado para machucar e amendrontar. No caso das crianças eles só tem a imaginação para se defender. Assim, mais que um filme sobre política, é sobre a imaginação em oposição a qualquer componente armado. Ainda assim, acredito que o cinema latino-americano sempre se caracterizou por ter a política presente em suas temáticas.

Como funciona a circulação de filmes na Venezuela? Há muitas salas de cinema? Ou são mais voltados para a televisão? Existem poucas salas de cinema e sua maioria, nos centros comerciais. Inclusive cidades importantes têm cinemas em mau estado de conservação. Mas graças a uma lei, os exibidores são obrigados a manter filmes nacionais em suas salas por pelo menos duas semanas. Isso permite que o cinema nacional tenha grandes audiências, que continuam além das duas semanas garantidos por lei.

No Brasil, a maior parte dos filmes é feita a partir de editais governamentais. De que forma o cinema é feito na Venezuela? A lei do cinema, fruto de muitos anos de trabalho, estabelece que todos os que trabalham no meio devem pagar impostos que serão revertidos para o cinema nacional. O mesmo ocorre com a publicidade, a televisão, os exibidores de filmes, todos contribuem com o Fondo de Promoción y Financiamiento del Cine (Fonprocine). A partir dele, apresentamos projetos que serão julgados e, se selecionados, recebemos 50% do valor necessário para realizar o filme. Tudo isto sob a tutela do Centro Nacional de Cinematografia. Por outro lado, está uma grande casa produtora, gerida pelo estado, uma fundação chamada Villa del Cine.

Como o cinema venezuelano pode dialogar com o brasileiro? Que parcerias podem haver entre os dois países? Apesar da diferença de idiomas, existe grande semelhança na forma de ser entre o brasileiro e o venezuelano. Isso renderia uma interessante construção de histórias e de uma cinematografia comum.

No que tem trabalhado atualmente? No começo de 2011 estreamos no Festival de Berlim e também em salas venezuelanas o filme El chico que miente, dirigido por Marité Ugás e produzido por mim. Este primeiro semestre do ano foi dedicado a promoção e distribuição deste filme, o que tem sido muito emocionante pela maravilhosa acolhida que vem obtendo. Esperamos poder trazê-la ano que vem para o Recife.

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