quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ilusões do tempo



A beira-mar de Boa Viagem serviu de cenário para 3x4, novo curta de Adelina Pontual. A tarde de anteontem, marcada por correntes de vento e lufadas de chuva, parecia ser um contratempo, mas se mostrou ideal para montar um set de cinema. O céu acinzentado e o clima invernal foi exatamente a atmosfera buscada pela diretora para representar um dia na vida de Flávia, a protagonista de 53 anos, em crise existencial.

Entre os poucos banhistas da área, no Pina, entra em cena o bravo grupo de Adelina, protegido por uma tenda e alguns guarda-sois da Rec Produtores. São cerca de 30 pessoas, dispostas a cumprir a ordem do dia e ainda proteger o equipamento da água, em meio a pulos para expulsar do corpo a baixa temperatura. Isso é cinema.

Nilza Lisboa, atriz escolhida para interpretar a personagem, diz que aceitou o papel por ter se identificado com o tema. “Meu último trabalho como atriz foi em 1994, para o teatro. Logo depois sofri um acidente, tive uma crise pessoal e resolvi me voltar aos estudos”. Antes, Nilza trabalhou em filmes de Fernando Spencer (Estrelas de celulóide, 1986) e Paulo Caldas (Chá, 1988). “Está sendo especial voltar ao cinema pelo olhar e mãos de Adelina”. Ainda no elenco estão Maria de Jesus Bacarelli, Jones Melo, Sílvio Pinto, Daniela Câmara, Henrique Pontual e Ana Nogueira.

Na equipe, Adelina conta com bons profissionais, alguns a seu lado desde seu primeiro curta Cachaça (1995): Beto Martins (fotografia), Pedrinho Moreira e Moabe Filho (som), Beto Normal (direção de arte e figurino), Cris Malta (maquiagem), João Maria (montagem), Amanda Nascimento (assistência de direção), Amanda Mansur (continuísta) e Gil Vicente (still). João Sagatito, 76 anos, é o chefe da maquinaria e da eletricidade.

O roteiro é de Adelina. A primeira versão estava escrita antes mesmo de realizar O pedido (1999), o primeiro de uma trilogia de curtas sobre a imagem. “A ideia é partir de um retrato para cada filme. A fotografia nada mais é do que a retenção do tempo”. Para a diretora, o formato do 3x4 remete a recordações da infância, quando ia a um fotógrafo de bairro. “Ele tinha paineis com fotos não resgatadas e ficava imaginando quem seriam essas pessoas. O que estaria por trás dessas imagens?”.

Se O pedido trata da morte, 3x4 é sobre as ilusões da vida e suas representações. Não por acaso, enquanto Flávia anda pela praia, cruza com um casal que joga frescobol… sem a bola. Referência direta à sequência final de Blow Up, de Michelangelo Antonioni, em que dois clowns fazem o mesmo numa quadra de tênis. O terceiro curta, ainda sem nome, será sobre a transitoriedade dos lugares utilizados como paisagem nas fotografias.

Realizado em HD com orçamento de R$ 80 mil do Funcultura, 3x4 é uma co-produção assinada pela REC Produtores, Chá Cinematográfico e Plano 9. As gravações terminam hoje, em uma casa de repouso no bairro do Arruda.

(Diario de Pernambuco, 28/07/2011)

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