terça-feira, 12 de julho de 2011

Domingo difícil em Paulínia



Noite difícil, a de domingo no Festival de Paulínia. Dois longas, a ficção Onde está a felicidade?, de Carlos Alberto Ricelli, e o documentário Cidade-Imã, de Ronaldo German, fizeram lembrar momentos constrangedores de outras edições do festival, como Doze Estrelas, de Luiz Alberto Pereira e Destino, de Lucelia Santos.

Nem tão feliz - A comédia romântica de Ricelli e Bruna (mais dela do que dele) não chega a ser tão ruim quanto estes, mas, até agora, é o pior filme do festival. Na coletiva de ontem, perguntas do tipo "vocês encontraram a felicidade fazendo o filme?" dão uma ideia do espírito do projeto.

A trama: casados há 11 anos, Teodora (Bruna) e Nando (Bruno Garcia) entram em crise após ela descobrir que ele mantém relacionamento virtual. Seu programa televisivo de culinária também foi para as cucuias, então, para se livrar dos remédios e se "espiritualizar", resolve percorrer o Caminho de Santiago de Compostela, acompanhada pelo produtor (Marcello Airoldi), que no caminho investe em piloto de um novo programa. A estrutura por ele pensada vai sendo assumida pelo próprio longa, uma mistura de relacionamento e sexo, guia de turismo, gastronomia e auto-ajuda. Até aí tudo bem, dentro da proposta "leve e divertida" assumida pelo filme. O problema é que o roteiro desperdiça as oportunidades que cria para que os personagens evoluam.

Aos 58 anos, Bruna continua linda, e o roteiro traz boas piadas, mas isso não basta para que o longa se sustente, principalmente depois de uma abrupta viagem para a Serra da Capivara, que mais parece um institucional do Governo do Piauí. "Aquilo não foi jabá", disse Bruna, na coletiva. "Tenho vontade de filmar no Piauí desde que sou criança". Além do papel principal, ela escreveu o roteiro, daí o ponto de vista ou o preconceito) feminino sobre o estereótipo machista, materializado em grupo de comentaristas esportivos do qual o marido abandonado faz parte.

Cidade-Imã parte da boa ideia de apresentar cinco músicos estrangeiros que, em diferentes momentos, adotaram o Rio de Janeiro como lar. Sao interessentes visões sobre a cidade, como ela é apaixonante de violenta, sobre como o caos a ela inerente pode ser produtivo para artistas. Mas a linguagem do filme, que intercala uma colagem de depoimentos para construir um discurso único, não ajuda e o todo se torna cansativo. Pena.

ABRACCINE - Na tarde de domingo, 28 críticos e jornalistas fundaram a Associação Brasileira dos Críticos de Cinema, entidade inédita que pode fortalecer e incentivar a atividade. Em passagem recente pelo Brasil, o cineasta Werner Herzog disse que a crítica está em extinção, pois seu espaço na imprensa está sendo ocupado pelo noticiário sobre celebridades e astros de cinema. Nesse contexto, a ABRACCINE surge como uma resposta. O presidente eleito é Luiz Zanin, decano do Estado de S.Paulo. Em Pernambuco, críticos com mais de dois anos de atividade podem requisitar inscrição através do crítico Luíz Joaquim (ljoaquim@yahoo.com.br).

(Diario de Pernambuco, 12/07/2011)

Nenhum comentário: