sábado, 16 de julho de 2011

Febre do rato contagia Paulínia


Premiado em oito categorias, o longa-metragem pernambucano Febre do rato saiu consagrado do 4º Festival Paulínia de Cinema. Em atitude ousada, o júri formado pela atriz Denise Weinberg, a diretora de fotografia Heloisa Passos, a crítica de cinema Isabela Boscov, o documentarista Gustavo Moura e o diretor Sérgio Rezende contrariou as expectativas de que um filme mais convencional seria contemplado – havia dois bons candidatos, os “filhos de Paulínia” O palhaço, de Selton Mello e Trabalhar cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra. Incorporar a irreverência da trupe de Febre do rato faz bem para a imagem do festival, que em apenas quatro anos, já é um dos maiores do país.

Na noite de quinta-feira, Febre do rato ganhou oito prêmios: melhor filme (júri oficial e crítica), ator, atriz, fotografia, montagem, direção de arte e trilha sonora. Apesar de sóbria, a cerimônia marcada por palavrões. O famoso bordão de Cláudio, “do c...”, foi repetido inúmeras vezes, inclusive por Selton Mello, ao receber o prêmio de melhor diretor. E também pelo secretário de Cultura, Emerson Alves, ao fazer o balanço do evento, que por sete dias atraiu 12 mil pessoas (27 mil, com os três dias de shows do Paulínia Fest). “Precisamos respeitar esse público. Provamos que ele pode encher os cinemas que passam filmes nacionais. Quanto à decisão do júri, ele poderia tomar a decisão mais simples e distribuir os prêmios igualmente. Mas com essa premiação, conseguimos o que todo festival quer. Ser o lugar onde diferentes vertentes podem se encontrar”.

Além dos oito troféus Menina de Ouro, a equipe de Febre do rato foi premiada com R$ 370 mil em dinheiro. Em resposta à pergunta recorrente sobre por que Paulínia, já que seu reduto tem sido o Festival de Brasília, Cláudio Assis responde: “quero encontrar o público, mostrar para ele que, quando se acredita numa ideia, podemos ir além e conseguir”.

Ao receber seu prêmio, a atriz Nanda Costa, invocou Clarice Lispector para descrever a experiência de ter feito parte da inflamada trupe de Febre do rato. “Depois do medo vem o mundo”. Zizo, o transbordante personagem vivido por Irandhir Santos, é uma homenagem a vários poetas, mas Xico Sá se lembrou do amigo de mesmo nome com quem andava nos anos 1980. “A diferença é que Zizo é feio e Irandhir, bonito”, disse o escritor, um dos responsáveis pelo argumento do filme. “O filme é ficção, mas funciona como documentário da minha geração, que frequentava o Beco da Fome. E atrapalhar a marcha do Sete de Setembro fazia parte da performance. Poesia é política. Glauber disse que isso seria demais para um homem só, por isso a dor. Nesse sentido, Febre é um pós-Terra em transe”.

No entanto, o momento mais emocionante da noite veio de Vladimir Carvalho, ao receber o prêmio de melhor documentário por Rock Brasília. Também premiado, seu irmão Walter Carvalho estava ausente por motivos de trabalho, mas agradeceu a Cláudio e a Vladimir, a quem chamou de poetas do cinema brasileiro. Em resposta emocionada, Vladimir disse que foi mais do que irmão de Walter, pois precisou criá-lo após a morte do pai. “Waltinho tinha apenas um ano de idade”. Com 50 anos de carreira, o diretor paraibano diz que o prêmio é uma injeção de ânimo. “Nem tudo são flores no nosso cinema. Há muita luta, muito que melhorar. No entanto, olho para Paulínia e vejo um oásis de esperança, de sinergia, de consequências positivas”.

* O repórter viajou a convite do Festival Paulínia de Cinema

Os premiados

Longa-metragem (Júri Oficial)

Melhor ficção
Febre do rato, de Cláudio Assis

Melhor documentário
Rock Brasília – era de ouro, de Vladimir Carvalho

Melhor diretor (ficção)
Selton Mello (O palhaço)

Melhor diretor (documentário)
Maíra Buhler e Matias Mariani (Ela sonhou que eu morri)

Melhor ator
Irandhir Santos (Febre do rato)

Melhor atriz
Nanda Costa (Febre do rato)

Melhor ator coadjuvante
Moacir Franco (O palhaço)

Melhor atriz coadjuvante
Maria Pujalte (Onde está a felicidade?)

Melhor roteiro
Selton Mello e Marcelo Vindicatto (O palhaço)

Melhor fotografia
Walter Carvalho (Febre do rato)

Melhor montagem
Karen Harley (Febre do rato)

Melhor som
Gabriela Cunha, Daniel Turini
e Fernando Henna (Trabalhar cansa)

Melhor direção de arte
Renata Pinheiro (Febre do rato)

Melhor trilha sonora
Jorge Du Peixe (Febre do rato)

Melhor figurino
Kika Lopes (O palhaço)

Prêmio Especial do Júri
Trabalhar cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra

Curtas (Júri Oficial)

Melhor filme
Tela, de Carlos Nader

Melhor direção
Gabriela Amaral Almeida (Primavera)

Melhor roteiro
Gustavo Suzuki (O pai daquele menino)

Júri da Crítica

Melhor ficção
Febre do rato, de Claudio Assis

Melhor documentário
Uma longa viagem, de Lucia Murat

Melhor curta
Tela, de Carlos Nader

Júri Popular

Melhor ficção
Onde está a felicidade?,de Carlos Alberto Riccelli

Melhor documentário
A margem do Xingu, de Damià Puig

Melhor curta
Café turco, de Thiago Luciano

(Diario de Pernambuco, 16/07/2011)

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