segunda-feira, 11 de julho de 2011

Fim de semana movimentado em Paulínia



O Festival de Paulínia cresceu tanto que pegou os próprios organizadores de surpresa. Mais gente do que o previsto obrigou o evento a promover sessões extras e repensar o sistema de acesso ao Theatro Municipal, que continua gratuito, mas agora com distribuição de senhas. Na sexta à noite, a grande expectativa pelo longa O palhaço, de Selton Mello, atraiu 2.800 pessoas ao local – o teatro comporta 1.800. Dentro, antes do filme começar, o “circo” já estava armado por um grupo de cerca de 100 pessoas que assistiram o filme anterior e se recusaram a deixar a sala. Shows de Caetano (sexta) e Gilberto Gil (sábado), promovidos ao lado do teatro após os filmes, foram motivos a mais para a superlotação.

Varias vezes aplaudido, de pé ao final, o aguardado longa O palhaço, de Selton Mello, teve uma boa recepção também pela crítica. Na apresentação, a produtora Vania Catani disse que, ainda criança em Montes Claros, assistiu a Paulo José vestido de palhaço. Anos depois, seu primeiro filme foi com o ator. Apesar de não ser autobiográfico, o filme também se mostra bastante pessoal para o diretor.

Colorido e sem sombras, O palhaço dedica um olhar sensível e delicado sobre a importância dos artistas populares. Foco na crise pessoal do palhaço Benjamin (Mello), que lidera com o pai (Paulo José) uma trupe circense por pequenas cidades de Minas Gerais. Sempre que não está no picadeiro, o olhar de Benjamin deriva ao infinito. Dilemas se resolvem em intervalos de silencio, ou em diálogos reticentes.

Participações especiais de Moacir Franco, Tonico Pereira, Ferrugem, Jackson Antunes e Jorge Lorêdo (Zé Bonitinho) fazem de O palhaço um belo tributo aos artistas do riso e também uma forma do diretor se declarar parte dessa linhagem. “O filme nasceu da vontade de falar sobre identidade, vocação, seu lugar no mundo, dilemas pessoais. É assunto caro a todos nós, palhaços, médicos ou jornalistas. É universal”. Ao que parece, depois da tortura emocional que foi Feliz Natal, sua estreia na direção, Mello conseguiu se encontrar. O filme entra em cartaz dia 28 de outubro.

Ainda na sexta, a competição de documentários iniciou com o biográfico Uma longa viagem, em que Lucia Murat aborda a contracultura dos anos 1970 através da história do irmão mais novo, Heitor. Presa por envolvimento na guerrilha, Murat encontrou nele a forma de, anos depois, saber o que se passava no mundo, a partir de seu exílio em Londres. O filme se faz no contraste entre as cartas enviadas para tranquilizar os pais, lidas dramaticamente pelo ator Caio Blat, e sua descrição do que realmente ocorreu, mundo afora. Sequelado pelo consumo excessivo de drogas, Heitor conquistou a plateia com uma sinceridade e lucidez que só os loucos são capazes.

Pais e filhos - A noite de sábado começou com a adrenalina de Rock Brasília – anos de ouro, de Vladimir Carvalho. A história da turma de desajustados que fundou as bandas Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude é contada com depoimentos dos integrantes, imagens de arquivo, dramatização e uma breve animação. O filme se torna ainda mais humano ao focar na relação entre os pais, diplomatas, professores e burocratas, e seus filhos que fundaram praticamente do nada uma potente cena cultural. Isso, aliado a entrevista inédita com Renato Russo, o caminho refeito do primeiro show fora do Distrito Federal e cenas do turbulento show no ginásio Mané Garrincha mantiveram o publico atento até os aplausos finais.

Distribuído pela Downtown Filmes, o doc de Vladimir tem tudo para ser um sucesso. E Renato Russo está com tudo. É bom lembrar que duas outras produções, uma biográfica e outra baseada em sua obra, estão sendo rodadas em Paulinia: Somos tão jovens e Faroeste Caboclo.

Longa de estreia de André Ristum, Meu país (co-produção Brasil-Itália assinada pelos irmãos Gullane) se mostrou mais do que um filme estrelado pelos famosos Rodrigo Santoro, Cauã Reymond e Débora Falabella. Eles interpretam (e muito bem) três irmãos de família classe média-alta, que após morte do pai (Paulo José), precisam resolver assuntos pendentes. O filme é 100% construído a partir desse círculo íntimo. Reymond leva inconsequente vida de playboy; Santoro, que fez carreira na Itália, se identifica mais com a irmã bastarda (Falabella) que até então desconhecia. O resultado destoa positivamente do atual cinema comercial brasileiro, dividido em comedias superficiais e melodramas apelativos.

Internet – Parceiro do festival, o Youtube inaugurou seu portal de cinema na tarde de sábado, em debate sobre distribuição em que participaram Jose Padilha, Marco Aurelio Marcondes e Fabio Lima, da Mobz. “A autodistribuição é fundamental porque o fundamental no cinema é o talento. Quem exerce o talento tem direito de ter o resultado do seu trabalho”, disse Marcondes. Do encontro surgiu a possibilidade de uma versão brasileira do projeto Life in a day, a ser dirigida por Padilha e veiculada no Youtube.

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