terça-feira, 26 de julho de 2011
Um bebê extraordinário
Em cartaz no Cinema da Fundação, Ricky (França, 2009) é um filme incomum sobre temas bastante comuns. A princípio, ele aponta para história recorrente, a da mulher abandonada, mãe solteira oprimida pelas responsabilidades. Ou seja, seria mais um filme a repetir fórmulas prontas. Assim como poderia cair em outros lugares-comuns e ser uma daquelas peças de entretenimento com bebês fofinhos, os “anjinhos” que tanto mexem com as fantasias femininas. Ou então a condenar o ser humano, incapaz de lidar com o desconhecido, tanto pelo viés da ciência, quanto pela ávida imprensa sensacionalista.
Mas o filme de François Ozon evita vícios e se equilibra belamente entre o ordinário e o fantástico, numa parábola sobre o processo de religação com o divino em seu sentido mais amplo, de reconexão com a vida. Foco no drama de Katie (Alexandra Lamy), a quem encontramos sem energia para enfrentar o dia. Ela tem uma filha de sete anos, a melancólica Lisa. Uma reviravolta as espera quando Katie conhece Paco (Segi Lópes), imigrante espanhol que trabalha na mesma indústria química. Em pouco tempo, eles estão morando juntos e têm um filho.
Até então, a narrativa de Ozon é econômica, de cortes temporais precisos. Após o parto de Ricky, o filme se dilata, entregue à surpreendente revelação trazida pelo bebê. Há a tentação de tratar do assunto mais diretamente, mas revelar mais do que isso seria estragar o que o filme tem de mais precioso. Pois a fantasia está incorporada ao filme não como um processo em si, mas com a clara função de relembrar as almas tomadas pelo desencanto de que é possível voltar a acreditar.
Se entregar para esse processo em vez de se agarrar exclusivamente ao filho são lições de amor e desapego que toda mãe deveria conhecer. “Quem ama, não abandona”, diz a filha. Parece clichê, mas é isso aí.
(Diario de Pernambuco, 26/07/2011)
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Um comentário:
Ricky nos traz a lição do desapego, a liberdade na aceitação ...
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