sexta-feira, 22 de julho de 2011
Um crime à qualidade
Assalto ao Banco Central é uma pérola da ruindade. O longa, o primeiro de Marcos Paulo, ficciona a famosa ação que, em 2005, tirou dos cofres públicos R$ 165 milhões, 90% deles ainda não encontrados. A história renderia um ótimo filme de roubo a banco, quase um gênero do cinema norte-americano. Mas o roteiro, que intercala os preparativos da operação criminosa e a investigação da polícia após o roubo, é tão burocrático que provoca dor de cabeça.
De cara, o filme entrega que o assalto foi bem-sucedido, mas parte dos bandidos foi capturada pela polícia. Com isso, viola uma regra básica desse tipo de filme: manter o mistério. Ou seja, mesmo sendo baseado em história real, o interesse do espectador em descobrir se eles vão conseguir se dar bem.
Resta então conhecer os personagens. Quem são eles? Como pensam? Como conseguiram entrar no banco sem serem vistos? Caracterizado como o Barão, cérebro e líder do bando, Milhem Cortaz parece ter saído de uma novela mexicana. Ele chama um amigo, o Mineiro (Eriberto Leão) para organizar uma loja de fachada enquanto os demais executam o roubo. Mineiro e Carla (Hermila Guedes), a mulher do Barão, não se para disfarçar seu romance. Um desperdício de bons atores, como Tonico Pereira, Gero Camilo, Vinícius de Oliveira, Heitor Martinez, Cadu Fávero, Fabio Lago e Juliano Cazarré, convocados para compor a bandidagem.
Há um nítido esforço do elenco em fazer o melhor, mas a dramaturgia de diálogos duros talvez só funcione na TV, onde Marcos Paulo trabalha como diretor. Lima Duarte e Giulia Gam, por exemplo, fazem dupla de investigadores sub-CSI, com sagacidade digna de Pepe Legal e Babalu. O apelo da história, atores famosos e a máquina de mídia movida pela Fox/Globo Filmes deve evitar que Assalto ao Banco Central seja um fracasso. Mas depois de comprar o bilhete, não adianta pedir o dinheiro de volta.
(Diario de Pernambuco, 22/07/2011)
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3 comentários:
Esse filme estreia hoje no Plaza Casa Forte. Recebi e montei ele ontem. Já vou assistir com um pé atrás, rsrs!
Texto ótimo como sempre, André. Acho que é preciso mudar o discurso. Ao invés de criticarmos o cinema comercial (o que já implica um cinema não-comercial, o que é sempre motivo de mais debate), acho que deveríamos era cobrar daqueles que desejam optar por aí que façam filmes comerciais de qualidade. Recursos, atores, técnicos e exemplos exitosos já temos - problema é que sobra também muito mau gosto.
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