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Cidadão Kane, Todos os homens do presidente, Rede de intrigas. Bastidores da notícia já renderam bons filmes. Virou até nome de um, de 1987, estrelado por Holly Hunter e William Hurt. Ao abordar um jornalismo em crise, Uma manhã gloriosa (Morning glory, EUA, 2010) engrossa o rol. Entre os méritos do longa de Roger Michell (Notting Hill), está discutir o papel de uma imprensa cada vez mais voltada para o entretenimento.
O filme inclusive parece um desses programas, como se o Mais Você fosse apresentado pela Diane Keaton e tivesse como diretor o Jeff Goldblum. O ponto de vista é o da jovem idealista Becky Fuller (Rachel McAdams), contratada para produzir o Daybreak, programa matinal no ar há 40 anos, e atualmente em decadência. Rachel, aliás, já foi vista como a blogueira de Intrigas de estado. Agora, ela manda bem como meio-termo entre o jornalismo ´sério` e o mar de banalidades em que a TV se tornou. Vale tudo pela audiência.
A equipe desmotivada é só o começo dos problemas, já que o apresentador secundário foi demitido. Ocupa a vaga o repórter veterano Mike Pomeroy (Harisson Ford). Ele não suporta o fato de, aos 40 anos de uma carreira premiada (inclusive um Pulitzer), encarar um programa de amenidades. O melhor do filme está em seu mau humor em contraste com o otimismo de Becky, espécie de sonho de menina no qual o próprio filme se ancora. Os quatro atores (Ford, Keaton, Goldblum e McAdams) estão muito bem e é neles que o filme realmente se salva.
No conflito entre a nova e velha geração, prevalece a defesa de um jornalismo exercido com entrega e que sobrevive como falha de sistema. No mais, profissionais da imprensa vão se identificar com a rotina dos protagonistas. Dorme-se mal. Não há tempo para a família. No frigir dos ovos - e para o filme, isso é mais que um jargão - a recompensa está na cumplicidade dos companheiros de trabalho. E no sentimento de missão cumprida.
*No Recife, Uma manhã gloriosa está em cartaz nos cinemas Box Guararapes, UCI Recife e Tacaruna
(Diario de Pernambuco, 01/04/2011)
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