sexta-feira, 22 de abril de 2011
Cinema São Luiz em manutenção
Sem que muita gente desse falta, há duas semanas o Cinema São Luiz deixou de funcionar. Inicialmente o motivo seria a manutenção do equipamento de som, mas a situação piorou com a falência do sistema de ar-condicionado, o mesmo desde a inauguração da sala, em 1952. A expectativa era que tudo se resolvesse logo, mas a previsão agora aponta para o dia 6 de maio. Até lá, também serão feitos reparos no forro e telhado. Na melhor das hipóteses, são 30 dias com as portas fechadas.
A notícia foi anunciada pela Fundarpe junto com a escalação do novo programador, Geraldo Pinho. Ele substitui Lula Cardoso Ayres Filho, que deixou a função em outubro do ano passado após série de turbulências entre ele e a Fundarpe, responsável pela administração do São Luiz, que chega a 2011 sob a égide da inconstância e improviso. É uma bela sala, talvez a mais bonita do país. Mas para fazer jus à fama, ou seja, voltar a ser cinema, precisa reavivar a relação com o público.
O trabalho é delicado e foi assumido por Pinho como um desafio e uma honra. Paulista de Santos, sua história se cruzou com a do São Luiz pela primeira vez em 1962. O filme em cartaz era La violetera (Espanha, 1958). “Na época ele tinha um bebedouro de mármore. É um cinema ímpar, pois foi projetado para ser isso, em vez de ser adaptado, como outros foram. Nunca deixei de frequentá-lo, mesmo durante a decadência”.
Gestor do Museu da Imagem e do Som, Pinho acumula cargos e diz que vai se empenhar para que o São Luiz volte a ser um cinema de referência. Para tanto, pretende voltar em maio com um filme inédito na cidade: Um lugar qualquer (Somewhere, EUA, 2010), de Sofia Coppola. “O São Luiz não é uma praça com chafariz, onde as pessoas se encontram para tirar fotos. Ele é um cinema e precisa se afirmar como tal, ter programação constante, som e imagem de qualidade, bom atendimento”.
É pena, mas os 30 dias de “molho” não serão usados para incrementar a potência da luz, limitada a três mil watts. “Quando o São Luiz fechou, a lâmpada era de dois mil watts. Quando assumiu, a Fundarpe passou para três mil, que é o máximo que o projetor aguenta”, explica Pinho. “Quatro mil seria a potência ideal para o espaço, mas para isso é preciso modificar a lanterna”.
Por enquanto, a prioridade será investir na programação diária e infantil, reservada para as manhãs de domingo. Quando estas estiverem fortalecidas, haverá tempo para clássicos, mostras e eventos como a extensão recifense do Festival Mix Brasil, sucesso de público nos anos 1990, quando Pinho era responsável pelo Cineteatro do Parque. “Quero exibir trailers dos filmes que vão entrar em cartaz. Cinema tem que anunciar os filmes que entram ‘a seguir’, para fidelizar o público”, diz o programador.
Diretrizes estabelecidas pela Fundarpe serão contempladas, como a exibição de filmes nacionais e a agenda de festivais e eventos formativos. No entanto, Pinho que isso não pode engessar o cinema. “Vou atender a demanda da melhor maneira, mas é preciso entender que o São Luiz é um cinema, e que portanto, precisa funcionar todos os dias. Um evento de três dias, por exemplo, pode matar o filme em cartaz”.
E que tipo de filmes podemos esperar? “De todo o tipo. Só não trabalho com lixo, norte-americano ou de qualquer outro país. Cinema público tem o dever de formar plateias. De passar filme experimental, que pode não atrair muito público, mas que faça as pessoas assistir algo diferente”. Após o filme de Coppola, a intenção é exibir o inédito (e indicado ao Oscar) Inverno da alma (Winter’s bone, EUA, 2010), de Debra Granik.
À procura de seu público, Pinho assim o define: “uma mistura de cinéfilo com ‘cinemeiro’, sem preconceito, que arrisca assistir filmes desconhecidos, mesmo que não goste do que viu. Esse público existe e precisa ser reunido”. E convoca a população para que volte a frequentar o palácio do cinema. “Para que o São Luiz possa retomar sua grandeza e volte a ser um cinema que nos dê orgulho”.
(Diario de Pernambuco, 22/04/2011)
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Um comentário:
Pois é, André, o São Luiz merece mesmo um tratamento dígno de sua história. É uma pena assistir a esse abandono por parte das autoridades, mas também - e é importante que se diga - por parte do público em geral, que parece não sentir falta dos cinemas de rua, como você mesmo disse muito bem. Mas mesmo sendo de rua - com aquela suposta falta de segurança, como justificam os que preferem o shopping - tenho certeza de que se for realmente reformado como mereçe, o público aparecerá e saberá reconhecer o São Luiz como um cinema de respeito.
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