sábado, 30 de abril de 2011

Cine PE faz gol de placa



Cinema e futebol. Sob o signo das duas artes, o 15º Cine PE - Festival do Audiovisual começa hoje, fazendo o que sabe melhor: atrair gente. E o festival das multidões deve manter a fama hoje à noite, ao homenagear Wagner Moura e o Rei Pelé. Imprensa nacional e local engrossam o coro: este ano, o credenciamento aumentou em 30%. Isso inclui cobertura da Globo, ESPN, do CQC e de equipe da Al-Jazira, que realiza documentário sobre os 70 anos do rei do futebol.

Antes das honrarias, será exibido o documentário Cine Pelé, de Evaldo Mocarzel (Do luto à luta), média-metragem de 60 minutos montado a partir de quatro horas de entrevista sobre sua carreira no cinema. O material de arquivo completa a experiência. “Sou um ator razoável. Era jogador de futebol e sempre gostei de interpretar. Essa homenagem me deixa feliz. Amo o povo de Pernambuco”, diz Pelé, no documentário. Em resposta, o diretor do Cine PE Alfredo Bertini diz que deve o festival a Pelé. “Em 1994, foi ele quem me apresentou a Anibal Massaini ao presidente do Festival de Gramado, de onde voltei com a ideia de realizar um festival em Pernambuco”.

O corte que será visto hoje foi feito especialmente para o evento. Mocarzel trabalha outra versão, de 25 minutos, que deve ser exibida em junho no programa Retratos Brasileiros, do Canal Brasil. “Explorei um lado menos conhecido do Pelé, que é sua carreira no cinema. Tem também um pouco da paixão dele pela música e uma palinha sobre futebol, senão seria linchado por 3 mil pessoas no Cine PE”, conta o diretor. “Quis fazer um filme de cinema, fugindo do formato televisivo. Tenho muito carinho pelo festival, o reconhecimento em Do luto a luta (sete prêmios) em 2005 me deu gás pra fazer cinema por mais dez anos”.

Na conversa com Mocarzel, Pelé diz que quando fez Fuga para a vitória estava em crise no casamento e recebeu conselhos de John Houston, que já havia passado por vários. E que teve uma lição de atuação com Max Von Sydow. O veterano ator de Bergman disse que mesmo com toda a tecnologia, o cinema é feito de uma coisa que nunca vai mudar: a luz, com quem o ator tem que contracenar. E que o gol de bicicleta final, feito por Pelé, seria de Sylvester Stallone, mas o astro de Rambo e Rocky não conseguiu realizar o movimento.

Durante a expedição pela memória do Rei, Mocarzel diz que há certa quebra de sua imagem de bom moço. “Ele fala sobre os bastidores da cena de nudez feita em Pedro Mico com Tereza Raquel, mulher do diretor Ipojuca Pontes”. E em Os trombadinhas, no qual co-escreveu o roteiro e foi um dos produtores, há uma cena em que a vigarista Ana Maria pergunta: “Pelé?”, ao que ele responde: “Não, Jô Soares, sua piranha!”. Mais incorreto, impossível.

Rivalidade no boxe

A relação cinema/esporte marca a abertura do Cine PE também na mostra competitiva de curtas. Inédito, o documentário Vou estraçaiá, de Tiago Leitão abre a mostra digital e retoma a rivalidade entre dois pulgilistas do boxe amador: o pernambucano Luciano “Todo Duro” e o baiano Reginaldo “Holyfield”.

Nos fim dos anos 1990, eles se enfrentaram seis vezes no ringue (três vitórias para cada) e também fora dele, em programas de TV. No doc, ambos relembram a rixa. Aos depoimentos, Leitão costura imagens de arquivo. Como a dicção dos dois é terrível, faz falta a legendagem.

Ao estilo dos lutadores, o curta foi feito “na raça”, com orçamento zero. “Sou produtor e sempre quis fazer um projeto meu”, diz Leitão. os fãs, uma informação importante: Todo Duro estará na sessão de hoje. Holyfield, não. A revanche fica para uma próxima.

O também pernambucano Janela molhada, de Marcos Enrique Lopes, terá exibição hoje, na mostra de curtas em 35mm. Ele trata da memória do cinema, no caso, da produção pré-Ciclo do Recife, capitaneada pelo imigrante italiano Ugo Falangola.

A estrela do curta é a filha de Falangola, Dona Didi, que quando criança aparecia nas vinhetas de abertura dos filmes do pai. Hoje com 92 anos - e 86 sem filmar, Dona Didi iria à sessão de hoje, mas teve que cancelar por conta de uma queda que levou. Ironia: agora apenas na tela, Pelé volta a encontrar Didi.

Pelé na tela

Pelé Eterno (2004), de Anibal Massaini Neto
Hotshot (1987), de Rick King
Os Trapalhões e o Rei do futebol (1986), de Carlos Manga
Pedro Mico - uma lição de malandragem (1985), de Ipojuca Pontes
Os trombadinhas (1979), de Anselmo Duarte
Isto é pelé (1974), de Eduardo Escorel e Luís Carlos Barreto
Passe livre (1974), de Oswaldo Caldeira
A marcha (1972), de Oswaldo Sampaio
O Barão Otelo no barato dos bilhões (1971), de Miguel Borges
O Rei Pelé (1962), de Carlos Hugo Cristensen
O preço da Vitória (1959), de Oswaldo Sampaio

Programação

Hoje, 30 de abril

18h30 - Cerimônia de Abertura
Sons da Esperança, de Zelito Viana (exibição promocional com duração de 10 minutos)
Homenagem: Wagner Moura

Média-metragem Especial: Cine Pelé (Brasil, 2011), de Evaldo Mocarzel
Homenagem Especial: Pelé

Curta-metragem Especial: Uma história de futebol (Brasil, 1998), de Paulo Machline

21h - Mostra Competitiva de Curtas-metragens
Vou Estraçaiá (digital, PE), de Tiago Leitão
Muita Calma Nessa Hora (digital, RS), Frederico Ruas
O contador de filmes (35mm, PB), de Elinaldo Rodrigues
Janela Molhada (35mm, PE), de Marcos Enrique Lopes
A Casa das Horas (35mm, CE), Heraldo Cavalcanti

Amanhã, 1º de maio

18h30 - Mostra Competitiva de Curtas-metragens
Céu, inferno e outras partes do corpo (digital, RS), de Rodrigo John
Tempo de criança (digital, RJ), de Wagner Novais
Braxília (35mm, DF), de Danyella Proença
Cachoeira (35mm, AM), de Sérgio José Andrade
Café Aurora (35mm, PE), de Pablo Polo

20h - Lançamento do Cel-U-Cine

Homenagem: Camila Pitanga

Mostra Competitiva de Longas-metragens
Família vende tudo (35 mm, SP), de Allain Fresnot

(Diario de Pernambuco, 30/04/2011)

Nenhum comentário: