domingo, 24 de abril de 2011

Cuidado que a Monga vem aí



“A Monga é uma consequência do nosso modo capitalista, explorador e consumista de viver”. Assim, direto ao ponto, o diretor Petrônio de Lorena define a personagem de seu novo curta. Selecionada para a mostra competitiva 35mm do Cine PE, Calma, Monga, calma! deve ser uma das sensações do festival. O filme é muito engraçado. E, ao mesmo tempo, bonito de ver. Anote aí: cenas da mulher-macaco atacando desavisados no cinema pornô, no ônibus bacurau e no cabaré ainda vão dar o que falar.

Ano passado, Petrônio já havia chamado atenção no Cine PE com o documentário sobre a cena brega Faço de mim o que quero, do qual é codiretor ao lado de Sérgio Oliveira. Agora ele retorna ao festival com obra que, em suas palavras, transita entre “o trash, o popular e o noir”. O elenco é liderado por Everaldo Pontes (Superbarroco), um policial dedicado a colocar a Monga (Hilda Torres) novamente atrás das grades.

Como bom noir, além do suspense, há a imprensa. No caso, a imprensa pernambucana, representada por Sérgio Dionísio, do programa Ronda Geral e Samir Abou Hana, que promove debate entre especialistas, incluindo um filósofo vivido por Jomard Muniz de Brito.

Enquanto isso, a Monga continua a fazer das suas na madrugada. Uma das vítimas é um emo (Grilowsky) que a confunde com um travesti na traseira de um bacurau. Sobrou para o cobrador (Miró) explicar o crime à polícia, o que gerou um dos melhores momentos do curta-metragem: um poema-desabafo sobre kombeiros acusados de matar duas meninas de classe média-alta.

Mas por que a Monga ataca? “Ela se rebelou contra a exploração sexual que sofreu nos parques de diversão e circos do interior”, conta Petrônio. “Do mesmo jeito, foi explorada nos empregos por onde passou. Ela teve até um momento áureo em Bollywood, fazendo pornôs, mas se viciou em drogas pesadas e adquiriu psicopatia por jovens varões recifenses. Ao mesmo tempo em que sente desejo, rejeita seu corpo peludo. Por isso a raiva”.

O inevitável paralelo com a realidade não demora a surgir. “A violência doméstica crescente e mortes passionais foram a minha inspiração. São surtos em que a gente se desconhece, motivados pelas pressões sociais, a necessidade de consumo, a exploração no trabalho, as frustrações amorosas. Nossa época mostra que de nada serviu todo o conhecimento acumulado pela humanidade”.

O próprio Petrônio já surtou como a Monga. Foi em 2007, durante o Atacadão dos Filmes, no Circo Voador (RJ). “Interpretei a macaca num julgamento de curtas, ao lado de Elke Maravilha e do professor Hernani Heffner. O evento era apresentado por Godô Quincas, que me sugeriu um filme com a Monga e assim começamos o roteiro”.

Calma, Monga, calma! foi rodado em película Super 16mm, ao custo de R$ 174 mil. O patrocínio é da Petrobras e prefeitura do Recife. O filme está quase pronto. Semana passada Petrônio finalizou o desenho de som e a mixagem. “Esta etapa deu cara ao filme”. Agora falta transferir para a bitola 35mm. Ou seja, Monga está quase pronta para soltar urros e rugidos também no Teatro Guararapes.

Ficha Técnica

Direção: Petrônio de Lorena
Roteiro: Petrônio de Lorena e Godô Quincas
Produção Executiva: Diana Iliescu
Direção de produção: Marilha Assis
Direção de fotografia e câmera : Ivo Lopes Araújo
Montagem: Çarungaua e Grilo
Som direto: Phillipe Cabeça
Desenho de som: Guga S. Rocha e Guma Farias,
Direção de arte: Diogo Todé e Maria Simonetti
Maquiagem: Gera Cyber
Figurino: Cecília Pessoa
Co-produção: Ginja filmes

Elenco: Godô Quincas, Hilda Torres, Everaldo Pontes, Grilowsky, Adilson Ferreira, Ramilson Gomes, Samir Abou Hana, Sérgio Dionízio, Tomás Nascimento, Jomard Muniz de Brito e Miró da Muribeca

(Diario de Pernambuco, 24/04/2011)

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