segunda-feira, 18 de abril de 2011

Lilith segundo o cinema



Há dois anos, quando lançou As filhas de Lilith, a escritora Cida Pedrosa não esperava que suas peraltices poéticas poderiam ser recriadas no cinema. Pois em breve, suas 26 insubmissas mulheres que passeiam pelo alfabeto se libertarão sem culpa do papel para ganhar forma visual na mostra Olhares sobre Lilith. De A a Z, 23 cineastas assinam os vídeos, realizados em diferentes formatos, da ficção ao documentário, da animação à foto stop-motion.

Mas há tantas mulheres assim fazendo cinema em Pernambuco? A pergunta, dizem as coordenadoras artísticas do projeto, Alice Gouveia e Tuca Siqueira, é recorrente. Sim, há mais mulheres filmando no estado do que letras no alfabeto. Oito delas, diz Tuca, lamentavelmente ficaram de fora por imposições de agenda, entre elas, Renata Pinheiro, Isabela Cribari, Adelina Pontual, Germana Pereira e Taciana Oliveira.

Alice diz não há amarras estéticas ou conceituais impostas às diretoras. "O que há é a tentativa de construção de um olhar feminino no cinema pernambucano, um cinema que é mais conhecido por ser feito por homens". Em exercício de desprendimento, Cida disse que liberou as meninas para fazerem o que quiserem com suas personagens: "se colocar limite, a criatividade vai pro brejo". Tuca revela que, mesmo assim, Cida é procurada o tempotodo pelas diretoras e tem sido parceira para buscar novos apoios e parcerias para o projeto, que por enquanto conta com recursos do edital do Funcultura.

A mais recente é a do escritor Marcelino Freire, que vai assinar um dos textos da exposição, marcada para agosto. Em novembro,o projeto vai a São Paulo, onde participa da Balada Literária. "Adorei o convite, me senti instigado em ser o único homem, me senti acolhido num grande ventre. Sempre gostei do livro, que é muito bonito, tem sexualidade e erotismo. Então imagine várias mulheres fazendo isso no cinema. Estou curioso pra ver o resultado".

Na exposição, cada vídeo terá de um a três minutos de duração e serão vistos em múltiplas telas com fones de ouvido. Mas Alice pensa também numa edição posterior, que podegerar um longa-metragem. O formato final do projeto, no entanto, será o de DVD, que servirá de catálogo. "Isso permite que ele seja exibido em salas de aula e associações", diz Tuca. "E percorrer cidades do interior do estado", completa Cida.

De forma independente, cada diretora está livre para inscrever seus trabalhos em mostras e festivais. Mariana Porto, por exemplo, planeja fazer um corte de 15 minutos para Zenaide, define ela, um documentário que "constroi uma mulher fictícia, que é todas e nenhuma". No poema, Zenaide se casa aos 20 anos, como quem compra uma bicicleta, em 1964. Mariana entrevistou então sete mulheres que tinham essa idade naquela época. "Procurei conectar o casamento e sexualidade, o corpo feminino e suas relações com o poder e a ditadura. Minha hipótese é a de que a subjetividadeda mulher tem sido definida a partir do olhar do homem e isso é algo que aflige as mulheres de todas as épocas".

Saiba Mais

Os poemas, as diretoras

Angélica / Débora Brennand
Berenice / Cynthia Falcão
Cecília / Manuela Piame
Diana / Camila Nascimento
Elisa / Alice Gouveia
Fátima / Mariana Lacerda
Grace / Geórgia Alves
Hilda / Mariane Biggio
Ívis / Tuca Siqueira
Juanita / Andréa Ferraz
Khady / Hanna Godoy e Márcia Mansur
Luísa / Alice Chitunda
Melissa / Silvia Macedo
Nely / Tuca Siqueira
Ofélia / Mannu Costa
Patrícia / Clara Angélica
Quima / Paula de Melo
Rosana / Kátia Mesel
Sihem / Séphora Silva
Tereza / Alice Gouveia
Úrsula / Luci Alcântara
Verônica / Cecília Araújo
Wilma / Eva Jofilsan
Xênia / Maria Pessoa
Yara / Sandra Ribeiro
Zenaide / Mariana Porto

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