domingo, 3 de abril de 2011

Passado do cinema baiano pronto para o futuro


Vadiação (1954), de Robatto, é o mais antigo da coleção

Há pouco mais de um século, Diomedes Gramacho e Dias da Costa rodaram Regatas da Bahia, a primeira obra audiovisual que se tem registro por lá. No entanto, diferentemente da produção naturalista pernambucana, como Veneza americana (1924), esse material se perdeu completamente. Foi lançado ao mar, pelo receio de que os rolos de acetato provocassem um incêndio.

Mesmo com essa irremediável lacuna, uma caixa de 12 DVDs foi lançada pelo Governo da Bahia que, em parceria com a Cinemateca Brasileira, coloca à disposição a coleção de 30 títulos Bahia 100 anos de Cinema. Palmas para o projeto, que reúne produção inestimável, agora preservada e acessível em prensagem de duas mil unidades, distribuídas gratuitamente para cineclubes e instituições públicas.

Em Pernambuco, a Fundação Joaquim Nabuco, Fundarpe, prefeituras municipais e pontos de exibição da rede Cine + Cultura receberam ou receberão o material. Pedidos podem ser feitos via dimas.diretoria@funceb.ba.gov.br.

Nele estão preciosidades como o primeiro curta de Glauber Rocha, Pátio (1956), e o representante da produção marginal Caveira my friend (1970), de Alvaro Guimarães, vistos pela primeira vez em formato digital. De Glauber, ainda há o seminal Barravento (1962).


Pátio, o primeiro curta de Glauber Rocha


O mitológico e anárquico Caveira my friend, de Alvaro Guimarães, pela primeira vez em DVD

Algumas obras, como Diamente bruto (1977), de Orlando Senna, precisaram sofrer intervenções na matriz, e O mágico e o delegado (1983), de Fernando Coni Campos, passou por um novo telecine. O filme mais antigo é o documentário Vadiação, de 1954. Seu diretor, Alexandre Robatto Filho, já produzia desde os anos 1930, mas esse material estava em má condição. ´Oito curtas dele, inclusive Vadiação, estão em processo de restauro`, diz Sofia Federico, diretora de audiovisual da Fundação de Cultura do Estado da Bahia, responsável pelo projeto.

Outros filmes essenciais são os de Roberto Pires, realizador de A grande feira (1961) e Redenção (1958), este, o primeiro longa baiano. Restaurado a partir da única cópia existente, uma película do acervo do pernambucano Lula Cardoso Ayres Filho, Redenção serviu de modelo de produção para a geração do Cinema Novo. Títulos que já disponíveis, mas nem por isso menos importantes, são os anárquicos Meteorango Kid - Herói intergalático (1969), de André Luiz Oliveira, e Superoutro (1988), de Edgard Navarro.



´Sem o investimento da Cinemateca, que cuidou da parte técnica e financiou a prensagem, não poderiamos fazer esse trabalho`, diz Sofia, que defende a preservação como política pública. ´Não dá pra investir somente em produção. É preciso inserir a preservação audiovisual de forma permanente`.

Em Pernambuco, falta estrutura para acervos - Faz falta uma caixa semelhante, que reúna títulos essenciais da produção pernambucana. Costumamos nos orgulhar de nosso cinema, mas são poucas as iniciativas para torná-lo acessível. Não é preciso voltar muito no tempo. Filmes feitos ainda nesta década acumulam poeira em alguma estante.

O único acervo público organizado do estado talvez esteja no Fundaj de Apipucos, que reúne em ambiente climatizado mais de 40 mil documentos, entre títulos do Ciclo do Recife (1925-30) restaurados, em película e DVD.

Gerido pelo estado, o Museu da Imagem e do Som (Mispe) não tem previsão de volta à sede na Rua da Aurora, interditada há cinco anos. Quando começar, a reforma levará no mínimo doze meses. Enquanto isso, os 170 filmes de 16mm e 35mm sob sua responsabilidade continuam disponíveis na Casa da Cultura (Santo Antônio), Raio Norte, 1º andar, de segunda a sexta, das 8h às 14h. Gestor do Mispe, Geraldo Pinho diz que o secretário de Cultura Fernando Duarte quer priorizar a reforma da sede, mas de acordo com o diretor de gestão de equipamento, Célio Pontes, não há data marcada para iniciar as obras.

Geraldo Pinho ainda critica as condições a que esse e outros acervos estão submetidos e recorre à ideia já apresentada de reuni-los em local adequado, uma cinemateca pernambucana que nunca saiu do papel. ´Contamos com uma produção muito grande. Recife é uma cidade úmida e esse material deveria estar em local apropriado`.

Outra coleção de cópias raras do século passado e curtas recentes está de portas fechadas. Criada em 1975 por decreto da Prefeitura do Recife, a filmoteca Alberto Cavalcanti deve ser inaugurada em 2012, após a reforma do Cineteatro do Parque. Semana que vem, o gerente de audiovisual Sérgio Dantas retomará contatos para parceria com a Cinemateca Brasileira, onde pretendem pleitear capacitação.

(Diario de Pernambuco, 03/04/2011)

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