sexta-feira, 22 de abril de 2011

Antes que o mercado ditasse as regras


Crítico e realizador, Celso Marconi é uma das fontes que resgatam a memória cinéfila.
Imagem: BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS


São Saruê. Vigilante Cura. Macunaíma. Siri. Projeção 16. Vagalume. Leila Diniz. Jurando Vingar. Revezes. Barravento. Não são poucos os cineclubes que marcaram época em Pernambuco. Apesar da forte tradição e das histórias que se confundem com a do próprio cinema, não há registro suficiente dessa trajetória. Para suprir essa lacuna, está em andamento o projeto Memória do Cineclubismo Pernambucano.

A partir de 32 entrevistas, a atividade será mapeada de 1943, quando o Cine Siri foi fundado, até 2007, um ano antes da criação da Federação Pernambucana de Cineclubes (Fepec), da qual o coordenador do projeto, Gê Carvalho, é presidente. O resultado será editado em formato de e-book, que ficará disponível em site próprio. Tudo está sendo realizado com R$ 25 mil, disponibilizados por edital do Funcultura.

Até o momento, 19 depoimentos foram recolhidos, entre eles, o de Fernando Spencer, Osmar Barbalho, Alexandre Figueirôa, Hugo Caldas, Alex, Nilton Pereira, Geraldo Pinho, Paulo Cunha e Kátia Mesel. Até mês que vem, será a vez de Geneton Moraes Neto, Marcelo Gomes e Cláudio Assis.

Em entrevista ao projeto na última quarta-feira, o crítico e realizador Celso Marconi assim explicou a atração local pelo cineclublismo: “Pernambuco tem uma ligação com o pensamento ideologizado. Isso nos leva a certas modificações, não só nos cineclubes. Nossos filmes demonstram isso por não seguirem as leis do mercado”.

Marconi não chegou a participar de nenhum cineclube, mas acompanhou todos como jornalista e programador da Sessão de Arte ao lado de Fernando Spencer, que ao longo de uma década lotou os cinemas Soledade, Trianon, São Luiz, AIP, Parque e Coliseu. “Nossa filosofia era a mesma dos cineclubes. Exibir filmes que possam provocar discussão”. E diz que, apesar das mudanças de contexto político e ideológico, a função da atividade continua a mesma: a busca da conscientização. “A ditadura acabou com o debate, os cineclubes acabaram por um tempo. E hoje quem manda não são as armas, mas o mercado”.

Gê Carvalho encontrou no depoimento de Celso pistas para seguir em frente na investigação. “Ele citou nomes importantes, como os de Nelson Simas, Pedro Arão, Valdir Coelho e Vital Santos”. Apesar da pesquisa estar em estágio avançado, não foram encontrados dados sobre alguns cineclubes, como o São Saruê e Macunaíma, falta que deve ser resolvida até o fim das entrevistas. Informações a respeito destes e outros cineclubes podem ser enviadas para nanoproducoes@yahoo.com.br.

(Diario de Pernambuco, 22/04/2011)

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