sexta-feira, 8 de abril de 2011

Nem tudo são flores no Rio de Carlos Saldanha



Chega hoje aos cinemas a aguardada animação Rio, dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha. A produção é da norte-americana Fox, que preparou o maior lançamento do país, onde estreia em nada menos que mil salas. No Recife, são 23 cópias dubladas e legendadas, seis delas em 3D.

Saldanha teve a ideia de realizar o projeto em 2002, mas somente após o sucesso obtido com A era do gelo 2 e 3 que se credenciou para viabilizar seu longa mais pessoal. Ao mesmo tempo, trata-se de potente produto comercial, capaz de lucrar tanto em bilheteria quanto em merchandising.

O personagem principal é uma ararinha azul em extinção (voz original de Jesse Eisenberg), a quem encontramos ainda filhote, na exuberante Mata Atlântica. Capturada por traficantes de animais, ela se perde em algum quadrante do Minnesota, onde é salva pela garota Linda (Leslie Mann), que a batiza de Blu (não por acaso, Saldanha trabalha no Blue Sky Studios).

Domesticado a ponto de não saber voar, Blu é convocado a voltar para o Brasil para se acasalar com uma das últimas espécimes femininas de sua raça, a briguenta Jade (Anne Hataway) e assim garantir o futuro da espécie. Acompanhados pelo brasileiro Tulio (Rodrigo Santoro), Blu e sua dona chegam no Rio durante o Carnaval. Na "cidade maravilhosa", estranham e se fascinam com tudo, até que contrabandistas de quinta categoria roubam o pássaro novamente.

Os cenários são realmente lindos, mas apesar da beleza obtida pela técnica de animação digital e dos efeitos 3D, estamos no Rio de Janeiro que os norte-americanos esperam ver. Nem a nacionalidade do diretor ou a trilha assinada por Sérgio Mendes garantiram o mínimo de veracidade ao todo. O filme patina em clichês turísticos que vão da favela ao Cristo Redentor. Há a figura do malandro. A do sambista. E um buldogue que dança com chapéu de Carmem Miranda. Sem falar na trama pseudo-ecológica sustentada no politicamente correto. Tudo isso torna Rio difícil de engolir.

E nos leva a perguntar quantas vezes esta cidade - e o país - se reduzirá ao estereótipo do samba, cachaça, futebol e mulher. É assim que o desenho nos trata, e assim voltaremos a ser vistos nos 27 países em que o longa estreia, de hoje ao dia 21.

Vale citar duas ´pérolas`: a primeira, o cientista responsável pelo acasalamento das araras aconselha a dona de Blu a não confiar em 'menino pobre', logo adotado pelo casal para integrar ONG de proteção aos animais. Mais à frente, ao som do funk, um bando de saguis assalta turistas desavisados. Nem tudo são flores no país tropical.

(Diario de Pernambuco, 08/04/2011)

Um comentário:

Rikelli disse...

Estou plenamente de acordo com a sua opinião em relação aos esteriótipos relacionados ao Brasil.
“O que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”. ( Martin Luther King )