sábado, 9 de abril de 2011

Scott Pilgrim como forma de ver o mundo



Não muito tempo atrás, no misterioso território de Toronto, Canadá, Scott Pilgrim encontra Ramona Flowers. Ela é durona e bonita. Ele a quer mais do que tudo e para isso precisa derrotar sete ex-namorados da garota. Eis o argumento de Scott Pilgrim contra o mundo (Scott Pilgrim vs. the world, EUA, 2010), de Edgar Wright, um poderoso tratado sobre ter 20 e poucos anos no século 21.

Ao incorporar elementos de videogame, séries de TV e histórias em quadrinhos, o filme olha de igual para igual para essa juventude. Quase não há referências de gerações anteriores, com exceção dos nomes dos colegas de Scott, Young Neil e Stephen Stills, tributo aos veteranos músicos canadenses e um trecho da música Teenage dream, do grupo glitter setentista T.Rex.

Coisa rara em filmes que adaptam quadrinhos, a narrativa flui entre brigas estilo Street Fighter e atrapalhadas declarações de amor. A montagem é fabulosa, no sentido de costurar diferentes situações e cenários como parte da mesma ação, de acordo com o desalento temporal do personagem. A escolha dos atores é mais do que acertada, principalmente Michael Cera (Juno) no papel principal.

Ao mesmo tempo em que entra no circuito Sessão de Arte dos cinemas UCI Ribeiro (sessão amanhã, 12h, no Plaza, segunda, às 19h, no Tacaruna e quinta às 20h30 no Multiplex Boa Vista), Scott Pilgrim acaba de chegar ao mercado de DVD e Blu-ray pela Universal, que entra na brincadeira ao iniciar o filme com versão pixelizada e som midi da sua clássica abertura. Logo depois, os créditos iniciais com abstrações coloridas fazem do filme uma viagem sem volta. Diversão garantida.



Adaptação - Criado pelo canadense Brian Lee O'Malley, a ´preciosa vidinha` de Scott Pilgrim veio ao mundo em 2004, inspirado em canção da girlband canadense Plumtree. Rendeu série de seis volumes, lançados até o ano passado. No Brasil, a HQ foi editada pelo selo especializado da Companhia das Letras, a Quadrinhos na Cia., que na próxima sexta-feira encerra a série ao lançar os dois últimos tomos compilados no mesmo livro.

Nos quadrinhos há passagens e personagens que não existem no filme, como o surpreendente pai da adolescente Knives Chau e a via crucis de Scott à procura de emprego. O traço que mistura quadrinhos ocidentais e orientais de O'Maley se explica pelo ´Lee` de seu nome. Descendente de japoneses, ele é aficcionado por mangá. Assim como por música, não por acaso, o eixo pelo qual gira o universo de Scott e da sua banda indie, a Sex Bomb-Omb. A internet não poderia ficar de fora e referências a ela estão em detalhes como tarjetas que apresentam a idade e ´status` de Scott e seus amigos e inimigos.

Scott Pilgrim contra o mundo é talvez a obra que melhor represente os comportamentos desencanados social e sexual da juventude contemporânea - desconectada do mundo ´adulto`, com déficit de atenção e desajustada emocionalmente. Sintomas que confrontam Scott mais do que qualquer ex-namorado do mal que sua amada Ramona possa trazer do passado. Enquanto ele próprio for seu maior inimigo, não há como ganhar vida extra e continuar jogando.

(Diario de Pernambuco, 09/04/2011)

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