quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Pagando bem, eles voltam



Um pelo dinheiro, dois pelo show. Blue suede shoes, canção escrita por Carl Perkins em 1955 e eternizada por Elvis Presley revela a lógica que rege o rock'n'roll desde sua origem. Não necessariamente nesta ordem. Corta. Brasil, 2010. O grupo Los Hermanos está de volta para cinco apresentações. É a segunda vez desde que seu fim foi declarado, há três anos. Como nos shows que abriram para o Radiohead no Rio e São Paulo, o retorno é pontual. São cinco vezes e só. A primeira foi no último sábado, durante o festival SWU. A segunda será amanhã, no Recife, com cerca de 20 mil ingressos esgotados. Sábado, eles voam para o Ceará Music. Domingo e segunda, é a vez do público de Salvador. Depois, cada barbudo volta a cuidar dos próprios projetos.

Não é de hoje que bandas cultuadas por fãs voltam de tempos em tempos. Agrada aos fãs e também aos bolsos de artistas, produtores, empresários. Três anos atrás, o The Police fez um revival comemorativo cuja turnê passou pelo Maracanã, em show históricopara 70 mil pessoas. Mas de todos os retornos, o mais cínico foi o da banda punk Sex Pistols, que em 1996 fez turnê intitulada Filthy Lucre (Lucro Imundo). Ao longo desta década, voltaram mais duas vezes. No próprio SWU, isso está ilustrado não somente pelo revival do quarteto carioca. Mas pelo Pixies, que acabou em 1993 e desde 2004 faz turnês esporádicas e o Rage Against The Machine, que após a saída do vocalista continuou como Audioslave e desde 2007 vai e volta, sem planos de gravar disco novo.

Os shows de Los Hermanos no Recife e Salvador são patrocinados pela marca de chocolates Bis, que pretende associar sua marca à música. Os do Ceará e São Paulo, vieram em decorrência. As negociações começaram no fim do ano passado, quando o empresário da banda foi procurado pelo escritório regional da Kraft Foods Brasil, subsidiária da Kraft Foods Global Brands, a primeira indústria de alimentos nos Estados Unidos e a segunda maior no mundo. Esta é a primeira de uma série de ações para promover o produto no Nordeste. "Fizemos uma pesquisa para entender qual era o status da marca e um dos resultados mais fortes é que, mesmo sem uma estratégia de comunicação específica, a marca é percebida e lembrada pelo público jovem", diz Mariana Amazonas, gerente de marketing da regional.

Mariana não revela o valor do cachê mas diz que a primeira proposta, feita pelo empresário da banda, foi exorbitante. "Foi bem difícil. A banda vale o que pediu mas há questões de marketing e o projeto só foi viável porque houve muita vontade dos dois lados para chegar a um meio-termo". Havia também a exigência de que o show fosse restrito para menos de mil convidados. "Chegamos a desistir para não gerar frustação nas pessoas. A ideia é fazer um 'bis' de uma banda muito querida, como Los Hermanos, e achamos que um show fechado poderia gerar uma imagem negativa. Após muita negociação, chegamos ao formato aberto, mais viável financeiramente".

"Resolvemos assumir em consideração à relação de carinho que temos com o público dessas duas cidades", disse otecladista Bruno Medina, em entrevista ao Diario. Na mesma conversa, por e-mail, ele garante que esta é a última chance de assistir Los Hermanos no palco. "2010 realmente fechou a tampa, e por enquanto não há qualquer perspectiva para shows adicionais em 2011. Se alguém ouviu diferente, pode apostar que é mentira".

(Diariod e Pernambuco, 14/10/2010)

Nenhum comentário: