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Uma única sessão de cinema foi capaz de reunir mais de doze mil pessoas no Parque do Ibirapuera. Como ignorar a projeção, na parede externa do auditório desenhado por Oscar Niemeyer, da cópia restaurada do clássico do expressionismo alemão Metropolis (Alemanha, 1927), de Fritz Lang? A singularidade do programa o tornou irresistível e atraiu diferentes tribos e gerações.
Sincronizado com o som da Orquestra Jazz Sinfônica, que interpretou o music score original composto por Gottfried Ruppertz, o filme de 248 minutos teve sua primeira exibição na América Latina, promovida pela Mostra Internacional de Cinema. Era uma noite de domingo fria e úmida, o filme-evento teve dois intervalos para descanso da orquestra, mas o público resistiu até o fim. E aplaudiu de pé.
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Foi um cenário e tanto. Árvores escuras, em contraste com o céu monocromático, poderiam ser a extensão em 3D do da distopia futurista criada por Lang. Oitenta anos depois, em silêncio, a metrópole assiste a si mesma. Entre os convidados do evento estava o diretor alemão Olav Saumer, que participa da mostra competitiva com seu longa de estreia, Clube do suicídio. "Nunca imaginei que sairia da Alemanha para assistir Metropolis no Brasil. A última vez que assisti esse filme foi em VHS".
A quantidade de pessoas e a quietude da sessão poderia supor uma liturgia, mas cigarros acessos e garrafas de vinho não permitiriam tanto. Bicicletas deitadas na grama, pessoas idem. Algumas trouxeram animais de estimação, como a estudante de arquitetura Luana Teodoro. "Foi uma grande ideia dos organizadores da Mostra. A sessão de hoje entrou pra história de São Paulo", disse, ao lado de seu dálmata.
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Metropolis foi restaurada pela Fundação Murneau em Wiesbaden, após a descoberta de um negativo em 16mm no Museu do Cinema de Buenos Aires. Promovida pela Mostra Internacional de Cinema, a sessão no Ibirapuera teve os mesmos moldes da realizada durante o Festival de Berlim, quando a versão completa do filme foi projetada no Portal de Brandenburgo.
(Diario de Pernambuco, 26/10/2010)
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