Germano Porto Carneiro Coelho morreu na tarde de domingo, aos 52 anos. Produtor e articulador do audiovisual, seu legado passa por obras fundamentais para a recente produção no estado, como Baile perfumado (1996), O rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas (2000) e Deserto feliz (2007), todos premiados e exibidos no exterior. Ontem pela manhã, o enterro mobilizou cerca de 100 pessoas no cemitério Parque das Flores, entre amigos, familiares e profissionais de cinema.
Não se sabe o motivo da morte. Germano morava só no bairro de Aldeia, o que dificulta apurar a causa. Inicialmente havia a hipótese de dengue ou infecção bacteriana, que teria sido adquirida ao manusear um livro empoeirado, hipóteses refutadas em comunicado oficial emitido pelo Hospital Santa Joana, onde o produtor foi internado, por volta das 3h da manhã de sábado, com febre e dores corporais. De acordo com o boletim, ele foi imediatamente transferido para a terapia intensiva. Os sintomas foram seguidos de problemas respiratórios e do coração. Germano não resistiu e faleceu às 13h40 do domingo.
De São Paulo, onde edita seu novo filme, País do desejo, Paulo Caldas lamenta a perda do amigo. "Estava com ele na quarta-feira passada, estava animado muito bem, esperançoso que ia terminar o filme. Ele era como um irmão pra mim. É muito lamentável que tenha desaparecido subitamente, de forma tão brutal". Lírio Ferreira, parceiro de Caldas na direção de Baile, também não pôde estar no funeral de Germano pois está no Rio de Janeiro a trabalho.
Marina Tigre, filha do produtor, estava inconsolável. Segurando flores amarelas, ela não se conteve e, acompanhada da mãe, chorou durante o sepultamento do pai. Germano também deixou duas irmãs. Uma delas, Verônica, é médica e irá participar da apuração da causa mortis do irmão.
Durante o sepultamento, uma loa foi cantada em homenagem de Germaninho, como era conhecido para não ser confundido com o pai, duas vezes prefeito de Olinda e um dos fundadores do Movimento de Cultura Popular. Aos 82 anos, Germano pai demonstrou equilíbrio perante a perda do filho. "Ele se foi muito cedo. Por fora estou forte mas eu me desmorono por dentro".
À imprensa, o ex-prefeito foi generoso e anunciou que prepara o livro Histórias do MCP, no qual o filho participaria produzindo um documentário em DVD. "Desde criança Germaninho participou do meu trabalho na luta pela cultura popular. Enganchado no meu pescoço, ele participou da primeira Marcha dos Camponeses no Recife, com Francisco Julião. Também esteve quando Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir me visitaram na Rua da Hora".
Além de profissional do cinema, Germano Coelho era pesquisador da cultura popular. Quando trabalhava na Prefeitura de Olinda, juntou-se a Cláudio Assis em projeto de mobilização comunitária através do audiovisual. Quem lembra é o amigo Roberto Viana, que nos anos 1990 dirigiu a série Expresso Brasil, veiculada na TV Cultura. Na equipe estavam Germano, Marcelo Gomes, Hilton Lacerda e Helder Aragão, o DJ Dolores. "Eu e Germano íamos começar um novo projeto, sobre a nascente do Beberibe,um pedaço de mata preservada próximo de onde ele morava", diz Viana.
Desde ontem, o Cinema São Luiz, na Rua da Aurora, ostenta em sua fachada o pesar coletivo pela ausência de Germano. Em vez do próximo filme em cartaz, diz o letreiro: "Cinema pernambucano de luto". Carla Francine, coordenadora de cinema da Fundarpe, diz que o plano é exibir um filme produzido por Germano no São Luiz até a próxima sexta-feira. "Ele foi uma peça fundamental na construção da políticas públicas, fazia parte do conselho setorial do audiovisual, do Centro Audiovisual Norte/Nordeste e colaborou na construção do nosso edital de fomento".
A produtora cultural Andréa Mota diz que Germano é um dos responsáveis pela retomada do cinema pernambucano e sua memória precisa ser preservada com a criação de um prêmio inédito, específico para produtores.
Germano Coelho também será homenageado em abril de 2011, durante o festival Cine PE. "Já estava no nosso plano celebrar os 15 anos de Baile Perfumado, que coincide com os 15 anos do festival.Agora será algo ainda mais importante para nós", diz Alfredo Bertini, diretor do Cine PE.
Produtor deixa obra inacabada
Germano Coelho não viveu para terminar seu último trabalho, o longa História de um valente. Na última quinta-feira, após meses de afastamento, ele retomou o trabalho com o diretor Cláudio Barroso, amigo de 25 anos. "Fizemos reunião de cinco horas, ele estava animadíssimo, planejamos atividades até fevereiro de 2012. Depois fomos para um restaurante em Aldeia, onde selamos a nossa amizade e nosso desejo em terminar o filme. Na quinta à noite, ele me ligou se queixando de dores no corpo. Vinte e quatro horas depois, ele estava no hospital", conta Barroso.
A produtora de Germano, Camará Filmes, é a proponente de História de um valente junto ao sistema de fomento da Agência Nacional de Cinema - Ancine. Com Francisco Carvalho e Edmílson Barros no elenco, o filme narra a vida do político pernambucano Gregório Bezerra, que em 1964 foi torturado em praça pública pela ditadura militar.
Esta é a segunda morte envolvendo a equipe do longa. Em outubro do ano passado, um acidente automobilístico vitimou um dos motoristas, Alfredo Pereira Lamego Júnior, e deixou mais seis pessoas feridas. Logo depois, a filmagem foi paralisada por falta de recursos. Prestes a ser retomado, o filme sofre novo revés com a morte do produtor.
"Terminar esse filme é uma questão de honra. A ideia é fazer contato com a Ancine, saber o que a lei prevê e assim que a situação se regularizar, seguir o último cronograma traçado por Germano", diz Barroso, que depois da eleição se reúne com Paulo Caldas, Pedro Severien e Amin Stepple para fazer ajustes no roteiro.
(Diario de Pernambuco, 19/10/2010)
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