sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mostra de SP // Caterpillar, de Kôji Wakamatsu



Com foco no patriotismo que sustentou a bravura japonesa durante a Segunda Guerra, o longa Caterpillar (Japão, 2010) olha para as mazelas provocadas por esse estado de espírito mantido até a eclosão das bombas de Hiroshima e Nagazaki. O filme de Kôji Wakamatsu foi exibido na quarta à noite na Mostra de São Paulo poderia ter contado com melhor projeção (a imagem digital estava um tanto opaca) mas isso não impediu que uma sala lotada percebesse sua alta qualidade.

A história começa cinco anos antes, durante a guerra Sino-japonesa, da qual o Tenente
Kurokawa (Keigo Kasuya) volta para casa sem braços, pernas, voz e audição. Sua mulher, Emi (Shinobu Terajima, prêmio de melhor atriz em Berlim) recebe a missão de cuidar do marido, nomeado pelo Império japonês como Deus da Guerra e heroi local.

Inicialmente considerada um fardo por Emi, a missão se mostra parcialmente vantajosa, já que a condição do marido atrai doações em comida, coisa rara durante a guerra, e reconhecimento social. A aparência de seu marido, apelidado de “lagarta” (caterpillar em inglês), aos poucos se mostra menos monstruosa do que seu passado, que volta em forma de alucinações e pesadelos.

Pelo tom ideológico antibélico e a inevitável analogia física dos protagonistas, Caterpillar dialoga com Johnny vai à guerra (Dalton Trumbo), também pelo impedimento físico decorrente da ação em campo de batalha. Outra referência imediata é a HQ Gen - Pés Descalços, de Keiji Nakazawa, desenhista que sobreviveu à bomba. Principalmente ao assistir dos que vão orgulhosos para a morte e a expressão de desespero de Emi enquanto canta o hino do país com a cabeça do marido no colo.

Nenhum comentário: