domingo, 1 de maio de 2011

Cine PE - noite um

Não somente Uma história de futebol, de Paulo Machline, mas todos os curtas da mostra competitiva provaram que eles ainda são o que há de melhor no Cine PE. Vou estraçaiá, de Tiago Leitão fez as honras de abertura da melhor forma possível. Assim como o pugilista amador Luciano Todo Duro, o doc foi direto ao assunto. A plateia não resistiu às declarações de Todo Duro, que se intitula o “matador de baiano” para provocar seu arqui-inimigo, Reginaldo Holyfield, e respondeu com risadas e aplausos durante toda a projeção. No final a plateia veio abaixo, no que já é um dos pontos altos do festival.

Se há limitações técnicas de som e imagem, elas caem como uma luva (de boxe): têm tudo a ver com o personagem. Leitão, que estreou na direção com o curta, começou com o pé direito. Ao Diario, ele disse que espera que as pessoas não se atenham somente à parte cômica do filme. "Todo Duro é uma pessoa incrível, com vontade de vencer e tem um lado super-frágil, a ponto de colocar a carreira na mão de filha adolescente". E que está na produção de um novo curta, sobre Nascimento do Passo (que sistematizou os movimentos do frevo), com direção de Helder Vieira.

O gaúcho Muita calma nessa hora, de Frederico Ruas, manteve o tom visceral ao abordar clássica cena de ciúme. Em barzinho “cabeça”, casal discute a relação até chegar na baixaria. A trilha sonora, ao vivo, acompanha a paranoia conjugal. Ideia boa e bem resolvida.

A competição 35mm, para usar um jargão do dia, não deixou a bola cair. O contador de filmes, de Elinaldo Rodrigues (Zé Ramalho – o herdeiro de Avohai), trouxe à tela o cinéfilo paraibano Ivan Cineminha, que deve ter mais horas de filmes assistidos do que todo o público ali presente. Mais do que uma declaração de amor ao cinema – há prazer em assistir trechos de produções antigas citados por Ivan -, o filme é um elogio ao ritual de ir ao cinema. No fim, depoimento de jovem morador de Picuí, cidade natal de Ivan, aponta para o triste fim dos cinemas do interior.

Janela molhada, de Marcos Enrique Lopes, trata da aurora do cinema e sua preservação, pontuado pelo tom afetivo de uma de suas participantes, Dona Didi, filha do pioneiro Ugo Falangola, autor de Veneza americana (1924). Na tela grande do Teatro Guararapes, o filme encontrou o público e, na noite de Pelé e Wagner Moura (que não foi), garantiu espaço para Gentil Roiz, Jota Soares, Ary Severo e Edson Chagas, o marco zero do cinema pernambucano. A casa das horas, de Heraldo Cavalcanti começa bem ao criticar ironicamente a vida moderna, ao inverter o jogo do telemarketing. Procurada por uma farmácia no dia de seu aniversário, senhora solitária e carente de atenção (Nicete Bruno) vira o terror dos telefonistas. No entanto, a queda para o melodrama talvez tenha sido demais para manter o filme de pé.

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Durante a cerimônia da abertura, o casal Alfredo e Sandra Bertini convidou ao palco a Ministra da Cultura Ana de Holanda e o Governador Eduardo Campos, que estava acompanhado de Dona Madalena Arraes. Subiu somente o governador, que ganhou uma salva de palmas de fazer inveja a Pelé. A ministra chegou depois e que duas das prioridades do audiovisual do MinC são dar continuação ao programa Cinema Perto de Você e discutir conteúdo. Antes, em reunião fechada, ela convidou Pelé para o
lançamento do projeto de restauração e digitalização do acervo do Canal 100, que deve ocorrer entre junho ou julho.

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O lutador Luciano “Todo Duro” foi a sensação da noite também no foyer do Centro de Convenções, onde posou para fotos e deu autógrafos para os fãs. “Acho que a gente vai ganhar esse ‘Oscar’”, disse, ao Diario. “Ali estou eu real. Só faltou colocar que sou mestre de capoeira e que trabalho com jardinagem”. Perguntado se o filme pode estimular uma volta aos ringues, a resposta é “sim”. E manda um recado para Holyfield - o esboço para uma revanche? “Eu tô com saúde, ele tá doente”.

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Wagner Moura não veio receber o Calunga honorário. Alegou problemas de saúde e agenda lotada – ele está em Paulínia, onde grava A cadeira de pai, com produção da O2 Filmes de Fernando Meirelles e Paulo Morelli. Mesmo assim, a homenagem foi feita na presença de sua mãe, Alderiva Moura, que veio da Bahia para o evento, e de um boneco gigante do Capitão Nascimento, produzido pela Petrobras, que comemora a marca de 500 filmes patrocinados. Tímida, Dona Alderiva foi ao microfone ler o recado do filho. Depois, não falou muito com a imprensa. “Sou tímida. Subi no palco por amor de mãe”, disse.

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Hoje tem lançamento do DVD de KFZ 1348, de Marcelo Pedroso e Gabriel Mascaro. Vendido a R$ 20, o disquinho traz material extra e uma crítica assinada por Carlos Alberto Mattos. A prensagem é de mil cópias, assinadas pela REC Produtores de João Jr. “Ele chega em momento bacana, em que outros trabalhos nossos estão em circulação. E torna acessível um momento inicial da nossa carreira”, diz Mascaro, que concorre hoje na mostra de curtas com As aventuras de Paulo Bruscky, documentário 100% produzido em ambiente virtual do Second Life.

Um comentário:

Adriana Mendonça disse...

A 1ª noite do Cine PE foi melhor do que eu esperava. Tirando aqueles dois curtas (A casa das horas e o da briga) tive prazer em ver os demais. Bjs, Adri Mendonça.