sexta-feira, 20 de maio de 2011

Nos confins do Afeganistão



É como estar em batalha no Afeganistão por 90 minutos. Com imagens feitas durante o conflito e depoimentos de sobreviventes, Restrepo reconstrói com incrível veracidade o drama de soldados norte-americanos. Ao mesmo tempo, causa a estranha sensação de que já vimos aquelas imagens antes. Isso porque, na mesa de edição, os diretores Tim Hetherington e Sebastian Junger se valeram de recursos do cinema de ficção para construir uma narrativa convincente. A combinação é certeira.

Por 15 meses, os diretores acompanharam o pelotão que se instalou no front mais inóspito e mortal da guerra dos EUA contra o Talebã, o remoto vale do Korangal. Como se estivesse na mão de um fuzileiro, a câmera registra a troca de tiros e bombardeios. A imersão naquela realidade nos leva a compartilhar de momentos triviais a negociações com os anciãos do vale, de confissões a discursos para enfrentar a morte de companheiros. Morto logo no início da operação, Restrepo é um deles.

Chama a atenção a diferença entre as partes. O Tio Sam está armado até os dentes, enquanto os afegãos visíveis são agricultores que lamentam a morte de uma vaca. O fato desse documentário ser feito durante a batalha talvez seja a maior demonstração deste desnível de poder bélico.

No entanto, o risco de morte assumido pelos diretores cobrou seu preço. No último 20 de abril, Tim Hetherington sucumbiu enquanto cobria a guerra na Líbia. Indicado ao Oscar de melhor documentário, Restrepo traz consigo outro amargo sabor: a crença bovina dos norte-americanos de que a baixa de civis adultos e crianças é justificável desde que os “malvados” sejam exterminados.

(Diario de Pernambuco, 20/05/2011)

2 comentários:

Emídia disse...

eu esperava menos propaganda EUA-são-foda. Pra quebrar um pouco isso só praticamente só teve a frase "eles não sabem o que fazer com a gente", sobre os que voltam da guerra, e as crianças feridas.

Andre Dib disse...

Não poderia ser diferente, Emídia. A voz é dos soldados ianques. A reação é nossa. E o filme dá espaço para que tenhamos a nossa própria visão.