sexta-feira, 13 de maio de 2011

Espelho da vida



Estreia hoje no Cinema da Fundação Cópia fiel (Copie conforme, França, 2010), de Abbas Kiarostami (Através das oliveiras). O filme traz Juliette Binoche em todo o seu esplendor. O papel de mulher desamparada, que precisa criar o filho sozinha, rendeu a ela o prêmio de melhor atriz em Cannes. E o longa vai além. Com um roteiro que provoca mais dúvidas do que explicações e uma rigorosa construção de imagens, Cópia fiel discute o que há de original e de arquetípico nas relações humanas. Mas, acima de tudo, é o cinema como espelho da vida.

A narrativa começa quando o perito em herança cultural, o inglês James Miller (William Shimell), vai a uma comuna da região Toscana, na Itália, lançar livro que investiga a diferença entre original e cópia na arte. Para o autor, não há. Na primeira fila está a francesa Elle (Binoche). Ela o convida para conhecer seu antiquário, de onde vão tomar um café. A sequência em que andam de carro e observamos a cidade pelo reflexo do para-brisa é uma das mais bonitas do filme. Ela decide mostrar ao estudioso uma reprodução da Gioconda que por dois séculos foi aceita como original e que, de tão perfeita, continua no museu. Terminam em restaurante onde passam a agir como se fossem casados há 15 anos.

A mudança de papeis tem um toque surrealista. Não por acaso, numa praça, o casal em crise se encontra com outro, mais velho, vivido pelo roteirista de Buñuel, Jean-Claude Carrière, e a atriz Agathe Natanson. É outro belíssimo plano-sequência. Estaria ele interpretando o marido apenas para provar seu conceito à mulher? Ou seriam realmente casados? Os dramas conjugais nos reduzem aos mesmos papéis? Mais do que respostas, importam os caminhos de interpretação. Como diz o filme, mais do que a obra, o que importa é o olhar sobre ela.

(Diario de Pernambuco, 13/05/2011)

Um comentário:

Adriana Mendonça disse...

André, só o quadro-mágico salva, depois que o Diário fechou várias partes para não-assinantes. Eu vi filme. O diálogo é super intrigante, de forma que não saí com resposta sobre serem ou não casados, mas acho que a proposta é essa. Estava com umas amigas italianas que não curtiram a forma estereotipada como retrataram a Itália. Enfim... vale a pena ver! Bjs, ADri Mendonça.