domingo, 8 de maio de 2011

Cine PE 2011 - noite sete e balanço



Com uma premiação que favoreceu o cinema paulista, terminou na última sexta-feira o 15º Cine PE. Estamos juntos (sete prêmios) e Família vende tudo (quatro prêmios) monopolizaram o resultado dos longas. Tempestade e Flash, foram eleitos pelo júri oficial os melhores curtas. Apesar do racha provocado por Casamento brasileiro, de Fauzi Mansur, a crítica se alinhou ao júri e aponta para Estamos juntos como o melhor. Alguns consideram o filme de Mansur inclassificável, outros, uma joia antiga e inesperada. Saiu do festival sem nada.

Os curtas eleitos pela crítica são da pesada: Ovos de dinossauro na sala de estar apresenta figura peculiar, a viúva de ex-cônsul da Itália, com quem formou a maior coleção particular de fósseis da América Latina. Norueguesa, ela fala em português terrível e age a partir de um estranho sistema de pensamento. O filme corresponde. É tão quadrado e radical quanto a personagem.

Calma, Monga, calma! mostra o Recife maldito, que só não poderia ser outra capital por conta das referências do jornalismo e cultura local. Elas levam ao riso mas, ao mesmo tempo, o filme consegue ser divertido, sinistro e arredio. Usa refinamento visual e técnico (há travellings e uma grua se eleva sobre a Conde da Boa Vista no final) para mostrar um mundo sujo, de monstros e boemia.


Vencedores posam para foto
Crédito: Daniela Nader

A maior surpresa talvez foi o prêmio de melhor ator ir para Caco Ciocler, no papel do cantor brega Ivan Cláudio, o rei do xique. Tanto que Ciocler nem estava na cerimônia para receber o Calunga. Favorita, Leandra Leal também não estava, mas por outro lado está mais longe (em NY).

Ao longo da premiação, vale registrar o agradecimento de Hilton Lacerda a Walt Disney. Foi na verdade uma referência ao curta de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, Praça Walt Disney, inexplicavelmente deixado de fora da competição. E um protesto por Renata não ter levado prêmio de melhor direção de arte por Estamos juntos, reiterado por Rui Pires, produtor do filme, que recebeu o Calunga de melhor fotografia no lugar de Lula Carvalho: “se não fosse a direção de arte, Lula não teria o que fotografar”.


Pernambucanos fazem protesto
Crédito: André Dib

Balanço - Para citar o slogan deste ano, foram sete dias de “emoções inesquecíveis”. Do sábado anterior, com público recorde na homenagem a Pelé, ao encerramento marcado por protesto de realizadores pernambucanos. A chuva foi fator contra. O medo de que um mitológico aguaceiro desabasse sobre a cidade atrapalhou bastante a programação de quarta e quinta-feira. Tapacurá não estourou (ao menos por enquanto), mas deixou marcas indeléveis no festival, que teve o público reduzido pela metade (15 mil pessoas) e atropelou a mostra de curtas, cujos minutos finais foram usados para passar recados e na quinta foram exibidos por último, após dois longas.

Em resposta ao tratamento, um grupo de dez diretores subiu ao palco durante a premiação, onde, em cima do bolo de debutante usado como decoração, estenderam faixa com a frase “menos glamour, mais cinema”. Em texto coletivo, foram reivindicados “menos palanque político e homenagens atrasando o horário dos filmes; que a Mostra Pernambuco seja integrada à programação do festival no Teatro Guararapes; que os curtas tenham sua projeção respeitada, sem qualquer interrupção durante os créditos, para a leitura de avisos; e que o festival respeite a integridade e a unidade da Mostra de Curtas e não faça repartições da projeção de forma aleatória”. A manifestação foi engolida a seco pelo cerimonial, que continuou a premiação como se nada tivesse acontecido.

Além do protesto, a insatisfação com o Cine PE levou aos realizadores a promover reunião aberta ao público, na próxima quarta-feira, às 19h, na Fundação Joaquim Nabuco (Derby). A ideia é criar um documento que será encaminhado pela seção pernambucana da Associação Brasileira dos Documentaristas à produção do festival e propor mudanças ao evento.

Alfredo Bertini, diretor do festival, disse que não entende por que a produção local não está satisfeita com o festival e que, em última instância, o que importa é o público. Sobre as reivindicações, ele admite a possibilidade de integrar a Mostra Pernambuco ao evento maior e assim dar mais visibilidade e divulgação à produção pernambucana. Como no Festival de Paulínia, uma noite de Cine PE poderia exibir dois curtas locais, quatro nacionais e um longa. Com a tecnologia atual, não há por que segregar curtas digitais e 35mm. Isso evitaria injustiças como a desclassificação do curta Haruo Ohara (SP), de Rodrigo Grota, cuja cópia digital estava em melhor estado do que a 35mm e, por ter sido selecionado para esta última, ficou de fora.

Basta, como o próprio Bertini considera, estabelecer a resolução HD como um dos critérios. Aliás, a qualidade técnica dos curtas este ano estava ok. Os piores casos vieram dos longas Casa 9, de Luiz Carlos Lacerda e Casamento brasileiro, de Fauzi Mansur, que estavam com imagem sofrível.

Cine PE também é memória. Lembrou de Baile perfumado. Trouxe à pauta Augusto Boal, em filme de Zelito Viana, que recebeu devida homenagem. Através de filme de Luci Alcântara, fez devido tributo a Jomard Muniz de Britto. Em Janela molhada, voltou ao cinema pré-Ciclo do Recife.

Outro acerto foi o novo sistema de júri popular, formado por cerca de 60 pessoas inscritas no site e escolhida de acordo com amostragem do público. Diferente de 2010, o resultado deste ano realmente correspondeu aos filmes que melhor foram recebidos pela plateia.

(Diario de Pernambuco, 08/05/2011)

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