quarta-feira, 4 de maio de 2011
Quebra-cabeça de muitos mundos
“Para ver as estrelas, tem que olhar de cima para baixo”. A frase, dita por personagem do longa Estamos juntos, é uma das formas que se tem para entender São Paulo. A cidade é cenário do novo filme de Toni Venturi (do premiado Cabra-cega), que estréia hoje, na mostra competitiva do Cine PE. O festival está dominado por produções paulistas e essa pode ser a favorita. A produção é da Olhar Imaginário (de Venturi) Aurora Filmes, responsável por Bicho de 7 cabeças, Carandiru e o recente Reflexões de um liquidificador. A fotografia é de Lula Carvalho.
O filme, que entra em cartaz no próximo 17 de junho, traz no elenco Leandra Leal, Cauã Reymond, Lee Taylor, Dira Paes, Débora Duboc e Sidney Santiago. A trilha sonora é de Bid, produtor de Afrociberdelia (1996), da Nação Zumbi. Todos estarão no festival, exceto Leandra, que está em Nova York e Reymond, que grava novela no Rio. “Estou muito feliz que a estréia vai ser no recife, cidade onde acontece a vanguarda da música, cinema e artes plásticas”, diz Venturi.
Há mais motivos para conferir a sessão de hoje: o roteiro de Estamos juntos foi escrito por Hilton Lacerda e a direção de arte é de Renata Pinheiro. “As pessoas veem Hilton como pertencente ao novo cinema pernambucano, mas ele vive em São Paulo há muitos anos. Isso foi decisivo para construir o roteiro”.
O título remete à saudação comum de companheirismo entre moçambicanos. A história trata das mudanças vividas pela jovem médica Carmem (Leandra), que se muda do interior do Rio para fazer residência em São Paulo. Faz amizade com o DJ Murilo (Reymond), que é mantido na capital pela família rica. O conflito surge quando conhece homem enigmático (Lee Taylor) e se entrega ao músico Juan (Nazareno Casero).
Lacerda conta que a experiência foi boa. “Trabalhei com um grupo diferente do que estou acostumado, tive que me cercar de outro universo, mas não tive que abrir mão das minhas convicções de roteiro. O filme é sobre estrangeiros e a cidade como quebra cabeça de muitos mundos, um núcleo pautado, inclusive, por movimentos sociais”. O argumento original de Venturi e Di Moretti foi visto pelo roteirista como uma limitação educativa. “Sou muito anárquico para escrever. O resultado é bastante surpreendente”.
Renata, que já fez a arte Feliz Natal de Selton Mello e A festa da menina morta, de Matheus Nachtergaele, descreve o filme de Venturi como uma grande produção. “Já tinha filmado em São Paulo, mas agora me aproximei do coração da cidade”. Um dos cenários é real: a sede do Movimento dos Sem Teto, um hotel antigo no centro de São Paulo. Outros cenários foram construídos do zero, como o hospital que Carmem trabalha, que ocupou parte do manicômio do Juqueri. “Precisava construir a arte com um pé na realidade forte de São Paulo e ao mesmo do ponto de vista do personagem, que vai mudando de percepção”.
Venturi diz que o projeto nasceu da vontade de falar da juventude no mundo urbano contemporâneo. “Me interesso no cruzamento de universos na grande cidade. Essa polifonia se cruza involuntariamente, se envolve, se estranha, convive no mesmo espaço”. Promete.
(André Dib, 04/05/2011)
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