domingo, 15 de maio de 2011

Inevitável Culto

O Teatro da UFPE não estava tão cheio, mas a energia que circulou na noite de sexta remeteu aos ginásios que a Legião Urbana lotava na virada dos anos 1980-90. Dado Villa-Lobos nem precisou se esforçar muito. Houve quem cantou junto as músicas novas, mas 99% do público tinha ido mesmo para cantar (e chorar) junto os velhos tempos. E foi o que ocorreu, durante quase duas horas com Soldados; Eu sei; Teatro dos vampiros; Por enquanto, Ainda é cedo. Faroeste caboclo ficou de fora: “É muito longa. A gente tá velho e pode morrer no meio da música”, disse Toni Platão. Mas nem a atitude debochada de Platão conseguiu impedir o inevitável culto a Renato Russo. Principalmente depois que um fã entregou uma foto do compositor, colocada ao lado da bateria até o fim do show.

Com sua morte em 1996, em outubro completam-se 15 anos desde que a Legião Urbana acabou. É incrível observar como sua força permanece intacta. Não somente nos fãs, que se renovam e dão novo sentido aos versos de Índios, ao sentir saudade de tudo o que não puderam viver. O próprio guitarrista demonstrou transbordar ao tocar Andrea Dória. “Faz tempo que não tocava essa”, disse.

A atitude pós-punk que une romantismo e crítica comportamental sempre foi o trunfo do grupo e isso fica claro nos hinos Tempo perdido, Há tempos, Será, Geração Coca-cola (sim, Dado bebeu uma latinha durante o show). Durante Índios, uma versão para Love will tear us apart, do Joy Division, influência primeira dos rapazes do Planalto Central. E o final triunfante, para lavar a alma, com Pais e filhos.

Problemas com som atrapalharam, mas não chegaram a ser um problema. Show de rock tem que ter alguma microfonia. Entre uma música e outra, Dado agradeceu aos amigos do Alto José do Pinho, com ênfase para Neilton, da banda Devotos. Cannibal também estava lá e depois foi confraternizar no camarim. Do lado de fora, mais de cem pessoas aguardavam para falar com Dado, tirar fotos, pedir autógrafos. Como já havia anunciado, ele atendeu a todos. Alguém trouxe um violão e em sua volta fez-se um grupo a cantar músicas da Legião. Para estes, a noite estava somente começando.

(Diario de Pernambuco, 15/05/2011)

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