sexta-feira, 6 de maio de 2011
O rochedo e a estrela, de Kátia Mesel, encerra o Cine PE hoje à noite
O Cine PE termina hoje, com cerimônia de premiação, homenagens à montadora Vânia Debs, o governador Eduardo Campos e os 15 anos de Baile Perfumado. Encerra o programa a premiére de O rochedo e a estrela, de Kátia Mesel (Recife de dentro para fora). Além da direção, ela assina o roteiro, direção de arte e produção de seu primeiro longa, que custou R$ 1,3 milhão.
Rodado em quatro países, o documentário trata da mitológica rota percorrida por 23 judeus holandeses que, para escapar da perseguição portuguesa, fugiram de Pernambuco para Nova York, na época um entreposto comercial. Antes, Kátia participa de debate com o historiador Eduardo Bueno, coordenado por João Gabriel (Revista Bravo!). Será no Recife Palace Hotel (Boa Viagem), às 15h.
O rochedo e a estrela foi realizado ao longo de 13 anos, período em que Kátia alega ter enfrentado problemas com a captação de recursos. A princípio, o filme seria uma ficção, orçada em R$ 7 milhões. O roteiro começou a ser desenvolvido em 1998 e há menos de 30 dias foi finalizado em 35mm e audio Dolby 5.1. A direção de fotografia é de Rodolfo Sanchez, com câmera de Beto Martins; a edição, de Claudio Fernandes; e a trilha sonora, de Lula Côrtes, com quem Kátia foi casada e dedica a sessão. “Lula me falou: ‘vou dar um presente’. Por isso peço para que não saiam durante os créditos, pois vou fazer uma surpresa nessa hora”.
Lírio Ferreira, Paulo Caldas e Hilton Lacerda confirmaram presença na homenagem a Baile perfumado. A ocasião é delicada, já que o produtor Germano Coelho e o fotógrafo mineiro Paulo Jacinto,o Feijão, faleceram recentemente. “Eles foram fundamentais. Muita gente trabalhou nesse filme, mas nesse momento eles são os grandes homenageados”, diz Caldas.
Entrevista Kátia Mesel
Pernambuco foi capital do Brasil holandês por 24 anos. Por que retornar ao momento?
O filme mostra o Recife como luz da liberdade. A grande importância de contar essa saga é realçar como a liberdade se desenvolve em coisas positivas. Aqui se formou a primeira sinagoga das Américas, os judeus tiverem alguns anos de paz. As primeiras imagens do Brasil são dos pintores de Mauricio de Nassau. A cultura floresceu, a medicina evoluiu. Quero mostrar como a liberdade é importante não só para o indivíduo, mas para a coletividade.
Como foi o processo de pesquisa para O rochedo e a estrela?
Viajei muito. Fui para Portugual, Espanha, Holanda, Estados Unidos, Grécia. Naquela época não havia muitos documentos sobre o assunto e eu precisava não só do fato histórico, mas de consciência de como eles se vestiam, se comportavam, de como eram as navegações. Fiz uma pesquisa visual, étnica, conceitual, para nutrir a visão de como mostrar isso pras pessoas.
E como isso está resolvido na produção?
Sentindo falta do respaldo visual, fiz reconstituição de época para dar apoio visual e conceitual sobre como aquelas pessoas viviam. São pinceladas simbólicas, como na saída dos judeus no Marco Zero, em que coloquei pessoas carregando baús, cestas e fazendo a ondulação do mar. Usei de realismo, a minha caravela no Porto do Recife é a Caravela de Bubuska, com ele vestido de holandês. São licenças poéticas infinitas. Na Holanda, mostro um casario do século 17 em que passa uma bicicleta e isso não me constrange. Foram decisões que tomei para dar embasamento para as pessoas.
Você tem ligação direta com o judaísmo?
Sim, minha mãe não era e converteu-se. Meu pai é filho de um lituano com uma romena, que fugiram da primeira guerra e se casaram em Pernambuco. É uma mistura de cigano com Conde Drácula.
Além do tema, a demora gerou mais curiosidade em torno do filme, inclusive se ele realmente ficaria pronto. O que você diria a quem duvidou?
Que vá ver o filme. Eu mesmo passei por dúvidas se eu ia conseguir o dinheiro. Quem duvidou tinha razão, puxa vida, são mais de dez anos para fazer um filme. Mas agora que está pronto, é preciso assistir para dizer alguma coisa.
(Diario de Pernambuco, 06/05/2011)
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