quinta-feira, 5 de maio de 2011
O cinema de Celso Marconi
Em pleno Cine PE, Celso Marconi lança sua obra completa em DVD. Por décadas ele atuou intensamente no jornalismo cultural do Recife, mas pouco se sabe sobre sua produção para o cinema, realizada entre os anos 1970 e 90. São 22 documentários experimentais sobre artes plásticas, folclore e o próprio cinema. O DVD duplo só não pode se dizer “obra completa” pois falta um filme curtíssimo, de um minuto de duração, intitulado Propaganda. O cinema de Celso Marconi tem tiragem de 500 cópias será vendido a R$ 25 cada.
A coincidência dos eventos não é intencional. Tem a ver com o calendário da Livraria Cultura (Recife Antigo), local do evento, que começa às 19h, com palestra de Fernando Monteiro e atentado poético de Jomard Muniz de Britto. Na tela, será exibido documentário sobre Marconi, feito por Sidney Sá. A produção é de Sérgio Dantas, gerente do audiovisual da Fundação de Cultura da Cidade do Recife.
Claro que o fato de ocorrer durante o festival mais popular do Brasil torna o
lançamento um interessante contraponto. “É o festival de maior público, nesse sentido ele é competentíssimo. Por isso ele evita filmes bem melhores do ponto de vista artístico, mas que não atrairiam tanta gente”.
Desde cedo, as convicções humanistas levaram Marconi ao pensamento crítico. Hoje ele se considera marxista-budista. “Minha filosofia é a dialética, que busco no próprio budismo. É a melhor maneira da interpretar o mundo”. Da filosofia ao jornalismo, foi um pulo. Entre o fim dos anos 1950 e 1999, ele trabalhou no Diario de Pernambuco, Última Hora, Jornal do Commercio e Jornal
Pequeno.
Claro que em sua produção audiovisual, iniciada com o grupo do cinema Super 8, circula o sangue de repórter. “O caminho era o documentário. Como já tinha estudado antropologia, meu olhar se fixou na vida cotidiana, como observador e participante”.
Aos 80 anos de idade, Marconi faz parte de uma tradição local de pessoas de cinema, que trabalham em praticamente todas as funções. Ao lado de Fernando Spencer e outros companheiros, foi responsável pelas Sessões de Arte que nos anos 1960 atraíram milhares de pessoas ao cinema. “Na verdade o mercado é muito pequeno. Se eu ficasse numa área só e de repente a perdesse, estava lascado”.
Ex-gestor do Museu da Imagem e do Som, ele não poupa críticas à administração
estadual. “Um governo socialista tem que entrosar cultura e educação de maneira mais objetiva, não só pra chamar a atenção. Seu papel poderia ser mais conscientizador, como foi o Movimento de Cultura Popular, ter uma ação que vá além dos editais e leis de incentivo. Os museus estão caindo aos pedaços. Depois que eu saí, o Mispe não fez mais nada, é um absurdo”.
Além dos três títulos em livro (dois compilam seus textos na imprensa), em
agosto Marconi lança o livro Por que gostamos mais do cinema de Hollywood?. “As pessoas gostam porque nascem e são preparadas para gostar de determinadas formas de cinema mais decorativo, superficial. A ditadura acabou com o Cinema Novo e hoje eles não precisam mais de armas, a cabeça das pessoas estão com eles. Daí esse festival com filmes anódinos”.
(Diario de Pernambuco, 05/05/2011)
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