Shiko inaugura hoje (sexta) nova exposição individual no Recife. Repleto de referências pop, Brega francês traz à cidade cerca de vinte novos trabalhos, uma amostra do bom momento vivido pelo artista paraibano. Entre eles estão os originais com a pin up Valentina Buzatti, a primeira garota ilustrada a participar em ensaio da revista Trip. Além das obras, Shiko prepara, ao longo do dia, um painel pintado em uma das paredes do Espaço Muda, que promove a exposição, com curadoria de Giovanna Simões. Na ocasião o Muda aproveita para inaugurar seu espaço gastronômico, o Bistrô Beco.
Há mais de uma década, Shiko desenvolve sua arte em diferentes linguagens (grafite, pintura, história em quadrinhos) e temáticas (erotismo, cultura underground, ficção científica). Segundo o próprio, a linha que "amarra" seus trabalhos é a relação direta com a música. Primeiro pelo jazz e blues, paixão traduzida com propriedade no álbum de quadrinhos Blue note, publicação independente à espera de editora disposta e ligada.
O rock'n'roll, outra constante, agora chega pelo fascínio das capas de discos de vinil - em uma das telas da exposição, uma garota desnuda manipula disco da Janis Joplin com famosa arte original de Robert Crumb. Uma série de três aquarelas foi utilizada para o encarte do novo CD da banda de rock instrumental Burro Morto, Batista virou máquina. A arte também serviu de storyboard para um filme realizado por Carlos Dowling e Bruno Salles. "O disco funciona como trilha sonora para o filme", diz Shiko.
A forte ligação com a cena cultural de João Pessoa não impediu Shiko de olhar e se influenciar pela do Recife - trabalhos anteriores trazem referências explícitas a grupos como Nação Zumbi e Mundo Livre e a filmes como Amarelo manga e Cinema, aspirinas e urubus. Brega francês é nome de música da Academia da Berlinda.
Uma das maiores telas da nova coleção é inspirada no novo álbum de Otto, Certa noite acordei de sonhos intranquilos. "Passei três dias ouvindo o disco e até pintei o nome dele na tela". O interesse pela tipografia está levando a incluir cada vez mais texto em suas composições, como na série O futuro já passou, em que um robô carrega um aparelho toca-discos. "Acho que a frase foi dita por Chico Science em uma entrevista".
Para compor este e outros ciborgues e cenários futuristas, Shiko busca referência nos escritores William Gibson, no pós-humano de Isaac Assimov e em filmes como Blade Runner (baseado em Phillip K. Dick). "Me interesso por essas imagens desde moleque, quando vi a capa do disco Somewhere in time, do Iron Maiden".
O fetiche por mulheres nuas culmina agora numa série de 13 telas protagonizadas por Valentina, assim batizada pelos editores da Trip como homenagem à esguia personagem de Guido Crepax, que, como Milo Manara, outro ícone dos quadrinhos eróticos italianos, há muitos anos foram devorados por Shiko. Hoje ele prefere o traço do francês Frédéric Boilet, autor de O espinafre de Yukiko. "Dele estou esperando coisas novas". Uma nova pintura da série Armário (o último serviu de capa de edição especial da Revista Zupi e a tela original foi vendida já no primeiro dia de exposição no Bar Central, no ano passado) completa a seleção.
Serviço
Brega francês, de Shiko
Quando: De hoje a 25 de março; abertura hoje, às 19h.
Onde: Espaço Muda (Rua do Lima, 280 - Santo Amaro)
Informações: 3032-1347
(Diario de Pernambuco, 25/02/2010)
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