quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Garanhuns Jazz & Blues Festival - Noite 3 e balanço



Entre conquistas e percalços, o Garanhuns Jazz & Blues Festival cresceu e se impôs enquanto principal alternativa ao carnaval pernambucano. Em todas as noites, a satisfação em assistir aos shows estava estampada no rosto dos milhares de moradores e turistas reunidos na Esplanada Guadalajara. A maior parte dos visitantes partiu do Recife e Caruaru, mas o evento também atraiu grupos de Salvador, Maceió, Natal e Fortaleza.

Para o casal cearense Mário e Givaneide, o evento foi melhor e mais organizado que o Festival de Guaramiranga, no Ceará. "Lá é difícil conseguir ingresso e aqui os shows são de graça. Esse festival merece mais divulgação", acredita Mário. "É um festival fantástico, uma ousadia por fazer no período do carnaval, que dá pouco espaço para esse tipo de música", disse o professor Paulo Chaves, do Recife.

Para a população local, o festival cumpriu a função de apresentar atrações incomuns até mesmo para o tradicional Festival de Inverno, como o bluseiro Magic Slim,de Chicago, e Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura. "É como dar uma bicicleta para um menino de dois anos de idade. Ele pode não saber o que fazer com ela naquele momento, mas um dia vai usar", disse o blogueiro Ronaldo César, que promoveu o paralelo Carnajazz com participação e canjas de convidados do festival, madrugada adentro. Outro destino certo do GJF foi a Bodega do Massilon, que também fez programação musical e etílica. Presença constante, o novaiorquino Karl Dixon foi adotado pelo festival (participou de vários shows) e virou celebridade instantânea em Garanhuns, com direito a flashes, autógrafos e frisson coletivo, causado por sua figura, dança e voz incomuns.


MAGIC SLIM FOI A ATRAÇÃO MAIS ESPERADA

Das três noites, a última foi de longe a maior, melhor e mais animada. Foram seis horas de música e atividades prolongadas pela alegre e divertida Big Time Orchestra, grupo parananense de onze bons músicos, figurino psicodélico, repertório dançante e uma coreografia exagerada para reverenciar os "loucos anos 50". A festa dos músicos se estendeu inclusive para o meio do povo, onde tocaram When the saints go marchin' in, o hino da dixieland. O ponto alto foi quando o guitarrista Ronnie Panzone assumiu a liderança e com uma música só repassou a história do rock em túnel do tempo, que partiu de Michael Jackson (Beat it) para AC/DC (Back in black), retorna a Chuck Berry (Johnny B. Goode), avança para Kiss (Rock'n'roll all nite) e termina com Ramones (I wanna be sedated). O público foi ao delírio e teve até quem arriscasse um salto do tipo mosh.


AULA DE ROCK CONTAGIOU PLATÉIA

Das atrações que fizeram jus e deram sentido ao nome "blues e jazz" ostentado pelo festival, as mais potentes foram Azymuth, Magic Slim e o quearteto de Esteban Sumar. O jazz 100% norte-americano esteve representado por este último, liderado por um guitarrista chileno partidário do jazz contemporâneo de Nova York, onde estudou no Berkeley College. Disposto a aprender, Sumar esteve atento e filmou todos os shows do festival, para onde deve retornar ano que vem, a convite da produção e também do músico pernambucano Wallace Seixas. No palco, o quarteto fez música de nuances e improvisos pontuado por uma simpática brincadeira: um samba dançado no sapatinho pelo saxofonista Paulo Monteiro, que serviu de mestre de cerimônias do grupo por ser o único que já havia tocado no Brasil, onde tocou no Recife Jazz Festival.

Já o blues esteve muito bem representado por Magic Slim, que foi direto ao assunto com um show simples e poderoso, um blues tradicional que se tocado por outros soaria estereotipado. Não é o caso de Slim; sua história de vida o autoriza a viajar pelo mundo como um embaixador do blues. Somente no ano passado, fez 186 apresentações. De Garanhuns, ele segue para shows na França e Alemanha.


ANDREAS KISSER (COM GUITARRA DE BOLAS BRANCAS ESTILO BUDDY GUY) E TICO TOCAM RAUL

O momento "pop" se deu com a homenagem que Tico Santa Cruz e Andreas Kisser fizeram a Cazuza e Raul Seixas. A presença do guitarrista atraiu vários fãs com camisas do Sepultura, Iron Maiden e Black Sabath, os quais provocou com frases do repertório metaleiro. No camarim, uma fila se formou para conhecer o ídolo, que atendeu a todos com a infinita paciência de Jó. Pena que sua participação no festival foi curta demais para satisfazer a sede da platéia.

Bastidores - Em seu terceiro ano, o Festival de Jazz & Blues de Garanhuns enfrentou um ponto de inflexão decisivo para sua continuidade. Com a saída do principal patrocinador, a Secretaria de Turismo de Pernambuco, o evento poderia recrudescer ou até mesmo se extinguir. No entanto, a Prefeitura de Garanhuns e o produtor Giovanni Papaleo conseguiram fazer um festival ainda maior. "Funciono melhor sob pressão", disse Papaleo.

Com a clara intenção de desvincular a imagem do GJF do escândalo que afastou o secretário estadual de Turismo, Papaleo chegou a interromper o show da Uptown Band, Tico Santa Cruz e Andreas Kisser, para dizer que o evento nunca foi pivô de desvio de verba e este ano foi realizado sem recursos do estado. "Pra mim foi questão de honra".

As declarações de Papaleo, amplificadas pela voz de Tico Santa Cruz, incomodaram o deputado estadual Isaías Régis, que abordou de forma agressiva à secretária municipal de Turismo, Gabriela Valença. Segundo ele, o governo teria R$ 90 mil para o evento, mas a prefeitura não apresentou os documentos necessários.

Em nota oficial, a prefeitura reconhece falha na organização pela não citação da presença do deputado, bem como de outras autoridades presentes e que nem sequer foi cogitada a destinação de recursos financeiros por parte do governo estadual. De acordo com a produção, o evento foi realizado com cerca de R$ 100 mil, 60% dos cofres municipais e o restante de empresas como a Chesf, Caixa, Ambev e R$ 25 mil do bolso do próprio Papaleo. O evento também conta com a aprovação da Lei Rouanet. "Espero que em 2011 o governo dê ao festival o mesmo tratamento que dá para Garanhuns durante o resto do ano", disse o produtor.

(Diario de Pernambuco, 18/02/2010)

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