domingo, 7 de fevereiro de 2010

Visibilidade para o rock instrumental


A Banda de Joseph Tourton


Anjo Gabriel

O rock instrumental está em alta. No Recife, bandas se organizam em palcos e estúdios. Ao longo deste ano, Wassab, Ska Maria Pastora e Anjo Gabriel lançam álbuns de estreia. O mesmo vale para Radistae e A Banda de Joseph Tourton, que abrem a programação do Rec Beat no sábado e domingo de carnaval. Elas reforçam o cenário formado por grupos de composições próprias, jovens e veteranos, como Rivotrill, Monodecks, A Roda, Tonami Dub, Chambaril, Monstro Amor, Treminhão, Variant TL e Kastarrara.

O fato de optarem pelo instrumental nada tem a ver com a suposta falta de bons vocalistas em Pernambuco. Base segura para soltar a veia criativa, bandas de pop instrumental sempre existiram. A diferença é que agora elas estão mais visíveis. A ascensão do formato tem a ver com o surgimento de produtores dispostos, um circuito de festivais antenado e a consequente formação de público para esse tipo de som.

A nova cena local acompanha uma tendência nacional, formada por Hurtmold, Elma, SãoPaulo Underground, Dead Rocks e Guizado, todos de São Paulo. Macaco Bong (MG), Pata de Elefante (RS), Retrofoguetes (BA), Burro Morto (PB) e Camarones Orquestra Guitarrística (RN) dão a entender que não se trata de um fenômeno regional. A unidade entre elas não está exatamente no estilo, distinto, mas na disposição em investir num formato que, apesar de soar estranho aos ouvidos do grande público, vem se afirmando como um dos mais criativos da música brasileira.

Leo Antunes, produtor do Radistae, vê na movimentação um bom momento para a música local. "Nunca parei para pensar se é tendência ou coincidência. O bacana é que essas bandas deixam o altar da música instrumental tradicional, erudita e de difícil compreensão, para chegar na diversidade de gêneros musicais mais comuns ao nosso cotidiano".

Nos últimos anos, Antunes promoveu shows com bandas instrumentais e espera promover o encontro da Radistae com a Variant TL. Ele diz que é mais difícil manter o público atento num show de 40 minutos, mas enumera vantagens de uma banda sem vocalista. "Sem a poesia do texto, elas são mais livres para fazer o que quiserem. Outra coisa é que a atenção é dedicada igualmente a todos os músicos. Vocalistas tendem a concentrar a atenção do público só neles".


Wassab

Há poucos meses o percussionista Gilú, da Orquestra Contemporânea de Olinda, fundou o Wassab, de olho no mercado de trilhas sonoras e produtos afins. Entusiasta do som instrumental, ele ainda quer criar um festival exclusivo para agregar bandas dessa vertente. "A gente fica mais solto para explorar o máximo possível. Com um vocalista temos que seguir uma linha melódica específica".

Jarmeson de Lima, do Coquetel Molotov, diz que a tendência é bem-vinda, apesar de poucos artistas investirem no formato como atividade principal. "A maioria são projetos paralelos, para mostrar algo diferente do que já estão fazendo". E ressalta a importância dos festivais para o atual cenário. "Uma coisa alimenta a outra. Quando começamos, não era tão fácil encontrar bandas de rock instrumental.Com mais espaço eles tiveram como se organizar. Hoje, a repercussão é maior".

As supernovas

Anjo Gabriel - Rock experimental, com músicas de longas tocadas com intrumentos obscuros, nos moldes dos grupos psicodélicos e do rock progressivo dos anos 60 e 70. Puristas, utilizaram equipamento analógico na gravação e mixagem do primeiro álbum, que será lançado no suporte CD e disco de vinil duplo, prensado numa fábrica da República Tcheca. "O computador nunca chegaria no timbre característico para o som que a gente quer", diz Marco da Lata (baixo e voz). Completam o grupo André Sette (teclados, harmonium e theremin), Cristiano Nascimento (violão, guitarra e voz) e Junior do Jarro (bateria e percurssão).

A Banda de Joseph Tourton - Grupo jovem e sintonizado com a vertente do rock contemporâneo, que experimenta e vai direto ao assunto. Formado por Diogo Guedes (guitarra e efeitos), Gabriel Izidoro (guitarra, escaleta e flauta transversal), Rafael Gadelha (baixo) e Pedro Bandeira (bateria), o grupo tem uma sonoridade que lembra Mogwai, Tortoise e Explosions in the Sky.

Radistae - O grupo de surf music é inspirado em The Pops, The Ventures, Dick Dale e Big Lazy, mas também flerta com ritmos caribenhos. O nome da banda, formada por Gabriel Melo (guitarra), Yuri Queiroga (guitarra), Chico Tchê (baixo) e Pernalonga (bateria), evoca o point preferido dos surfistas em Olinda, antes da construção dos diques na orla da cidade.

Wassab - Inspirada no "avant-groove" de Medeski Martin & Wood e na fase instrumental dos Beastie Boys, o power trio surgiu ano passado, em Olinda. Seu primeiro CD está pronto e deve chegar depois do carnaval. A banda surgiu quando Gilú (bateria) convocou Juliano Hollanda (guitarra) e os dois chamaram Hugo Lins (baixo). Os três são produtores e compositores e o que era um projeto pessoal se tornou coletivo.

(Diario de Pernambuco, 07/02/2010)

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