terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Olhar intrigante sobre o maracatu rural



O interesse por pessoas tem pautado o trabalho da fotógrafa Bárbara Wagner. Na mostra Estrela Brilhante, intrigante série de retratos de brincantes do maracatu rural, ela reafirma e amplia seu olhar sobre a figura humana.

Caboclos de três agremiações foram retratados sem a indumentária típica, antes e durante ensaios noturnos para o carnaval. Patrocinada pelo Grupo Santander Brasil, a exposição foi montada na Galeria Marcantonio Vilaça do Instituto Cultural Banco Real e encerra o projeto Contemporâneos Pernambucanos, que desde 2006 promoveu exposições individuais de Rodrigo Braga, Lourival Cuquinha, Amanda Melo, Bruno Vieira, Jeims Duarte, Tereza Neuma, Cristiano Lenhardt, Jonathas de Andrade e Kilian Glasner.

Para a curadoria de Estrela Brilhante, os coordenadores do projeto Cristiana Tejo e Moacir dos Anjos convocaram o professor e crítico de arte carioca Marcelo Campos. "Foi uma surpresa pra mim uma jovem artista retomar com originalidade a tradição de fazer retratos do povo. Ela retira a fantasia dos caboclos assim como no período em que eram feitos retratos de nobres sem a indumentária. Se na história da arte o retrato é algo clássico, quando somado a novas situações se torna arte contemporânea ", diz Campos. Na noite de domingo, ele visitou os ensaios in loco, nas ruas estreitas de Nazaré da Mata, o que permitiu fazer comparações com a série de fotografias. "É tudo muito escuro, o que esconde as cores das roupas, chapéus e outros objetos visíveis na luz do flash, uma das características do trabalho de Bárbara".

A exposição traz 22 retratos dispostos nas quatro paredes da galeria, com leitura em sentido horário. A primeira mostra um grupo de pessoas que aguarda o ensaio na frente de uma bodega; logo após brincantes conhecidos e anônimos são apresentados individualmente; em outra parede, há duas fotos de grande dimensão com pessoas que assistem à brincadeira; por fim, quatro imagens capturam caboclos durante o ensaio, em posição de espera, enquanto o mestre canta a toada.









Os retratos de Bárbara também causam estranhamento não só por contrariar a imagem consolidada em torno do maracatu, mas pelo aspecto "sujo" dos ensaios regados a azougue e à presença de objetos urbanos como papéis de sorvete, bitucas de cigarro e garrafas de bebida espalhados no chão. A falta de informações que possam situar o observador se confronta com a formação da fotógrafa, jornalista graduada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). "Gosto de trabalhar nos limites de linguagem. O que há de fotojornalismo é que eu respeito o fato e não monto ou dirijo a cena. As pessoas estão à vontade para se apresentar do jeito que quiserem para a câmera. Só que como observadora, quero liberdade para poder criar a própria interpretação", diz Bárbara.

Campos chama atenção para o fato desse "silêncio" de informações objetivas ser algo essencial no trabalho de Bárbara. "Subversivamente, ela tira as legendas das imagens. Não é um trabalho etnográfico, jornalístico ou de história da cultura popular. Ele se balança nessa incompletude para o espaço da arte".



Serviço
Estrela Brilhante, de Bárbara Wagner
Onde: Instituto Cultural Banco Real (Av. Rio Branco, 23, 3º andar, Bairro do Recife)
Quando: Hoje, às 19h30. Visitação de amanhã a 4 de abril
Informações: 3224-1110

(Diario de Pernambuco, 09/02/2010)

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