sábado, 26 de setembro de 2009

Revolução que está por vir...


... tem data marcada

Pernambuco conta com oito salas digitais de cinema, incluindo a 3D do Box Guararapes; a digitalização dos espaços exibidores é um processo inevitável

Em breve, o Recife terá uma nova sala de cinema 3D. Ela será inaugurada em dezembro, no Multiplex UCI Ribeiro Recife, em Boa Viagem. Mais precisamente no dia 18 de dezembro, data prevista para a estreia de Avatar, a megaprodução de James Cameron. A novidade é apenas um dos indícios de que o cinema analógico, armazenado em rolos de película 35mm, está com os dias contados no Brasil. Somente nas últimas semanas, a rede Cinemark inaugurou cinco novas salas 3D em São Paulo. Das 412 salas do grupo, 9% contam com o equipamento.

Quem determina a mudança, naturalmente, é o fator econômico. De acordo com o site especializado Filme B, metade do faturamento norte-americano de Up, Força G e Era do gelo 3, três grandes lançamentos do ano, é proveniente das salas 3D, que representam um terço do total dos espaços de exibição de lá. Ainda segundo o Filme B, no Brasil, 54% da renda da animação Up é recolhida das 76 salas 3D.

Um mercado promissor, tendo em vista que há 2.100 salas no país. Até porque, as que não migrarem para o digital, com o tempo fecharão as portas. De acordo com Luiz Gonzaga de Luca, do grupo Severiano Ribeiro, essa conversão não sai por menos de R$ 600 milhões. "Se não houver intervenção do estado, não só os pequenos exibidores irão morrer", diz o executivo, que defende que a conta deve ser financiada pelo governo e paga pelos estúdios, distribuidores e exibidores.

À primeira vista, todos saem ganhando. Após o período de adaptação, o lucro será maior, pois a logística será mais barata que a atual. O público também não terá do que reclamar. Não somente poderão experimentar filmes com maior qualidade de imagem e som. Assim como poderão, graças à convergência de mídias, assistir a shows, espetáculos e eventos esportivos em 3D.

Por enquanto, o Recife conta com oito salas digitais. Uma é a 3D do complexo Box Guararapes, que funciona com a tecnologia XPAND. As demais estão habilitadas a exibir filmes codificados pela Rain Networks, bitola adotada para filmes com distribuição independente. A pioneira funciona no Cinema da Fundação. As outras estão no Box.

"A digitalização das salas é um processo inevitável. O que torna as coisas mais difíceis é que aqui no Brasil ainda não temos um modelo de negócios definido. No ano passado quando implantamos as nossas salas 3D, gastamos 500 mil por sala. Hoje o dólar está mais baixo, e o custos dos equipamentos baixaram também, mas ainda custam mais ou menos 5 vezes mais que o 35mm", afirma Rosa Maria Vicente, diretora de programação e marketing da Box Cinemas do Brasil.

A oferta de filmes digitais tem sido tanta que, no Cinema da Fundação, o projetor 35mm estava parado por mais de dois meses. Foi reativado para exibição de Anticristo, de Lars Von Trier. Foi a saída para ocupar uma área maior da tela, pois a versão codificada pela Rain reduziria a dimensão do formato Scope.

Em breve, o Cine Rosa e Silva colocará na cidade mais três salas do sistema Rain. Elas chegam com outras mudanças no complexo, uma reforma que inclui a troca de cadeiras e do sistemade ar condicionado. "Ficou difícil trabalhar com os filmes do circuito alternativo, porque eles lançam um filme com apenas uma cópia em película. O resultado é que quando um filme é muito requisitado, ficamos esperando pelo menos seis meses", diz Carol Ferreira, programadora do Rosa e Silva.

No entanto, a incompatibilidade entre os sistemas de exibição - os grandes estúdios operando no sistema DCI e as pequenas salas independentes no sistema Rain - termina por colocar o dedo na ferida do circuito exibidor nacional, que terá uma divisão ainda mais acirrada. Estaremos às vésperas de oficializar a marginalização do cinema nacional, agora restrito às salas "alternativas"? E quanto ao circuito comercial, resta a ele assumir a função de mero operador da produção hollywoodiana? Como nos filmes de ficção, o futuro pode ser ao mesmo tempo fascinante e assustador.


Convergência sem ingenuidade
O processo de transição para o cinema digital no Brasil pode ser melhor entendido com um livro a ser lançado esta semana, durante o Festival do Rio. A hora do cinema digital (Imprensa Oficial de São Paulo, R$ 15), de Luiz Gonzaga de Luca, é o novo volume da Coleção Aplauso. Para Luca, o cinema, "o último veículo de comunicação analógico, está dando um passo que modificará o seu futuro".

Seu livro é um guia - talvez o único disponível no mercado nacional - para acessar detalhes técnicos, políticos, históricos e econômicos sobre a revolução que está por vir. "A abertura que Glauber tanto falava na verdade chegou com o cinema digital", diz o autor. "Mas para isso precisamos discutir convergência sem ingenuidade. Os padrões técnicos estão adotados, mas isso não resolve questões de mercado, onde TV domina o faturamento no audiovisual. Na Índia, o cinema controla 60% do mercado. O cinema é a TV da Índia".

O assunto está na pauta do próprio Festival do Rio, que promove uma mesa com Joe Peixoto, executivo da Real D (fabricante de projetores 3D) e mediação de Luca, que apresentará as experiências brasileiras na produção de conteúdo tridimensional.

(Diario de Pernambuco, 27/09/09)

Um comentário:

Anônimo disse...

espero que os preços dos ingressos não sejam tão caros como os cobrados atualmente para as salas de exibição em 3d.