segunda-feira, 8 de junho de 2009
Matéria primordial da sétima arte - entrevista com Carlos Ebert
Carlos Ebert, Lúcio Kodato e Flávio Ferreira, três experientes diretores de fotografia do cinema nacional, se encontram no Recife para ministrar uma das oficinas do Centro Audiovisual Norte-Nordeste (Canne). Será amanhã pela manhã, somente para convidados. Logo depois, é a vez do público interessado receber uma superaula sobre o tema, na palestra gratuita Novos horizontes do cinema nacional, marcada para as 15h no Cinema da Fundação (Fundaj - Derby).
Na pauta estão as novas perspectivas da cinematografia contemporânea, inclusive no que diz respeito à interação entre linguagens, gêneros e mídias. A união de forças entre os três "cinematógrafos", para usar um termo mais específico, faz da palestra uma ótima oportunidade para compreender o cinema a partir de sua matéria primordial: a luz.
O evento é promovido pela diretoria de cultura da Fundaj, em parceria com a gerência de audiovisual da Fundarpe. A organização é de Flávio Ferreira que, entre outros trabalhos, é responsável pela fotografia da novela Xica da Silva (TV Manchete) e dos programas Brasil legal e Brava gente brasileira (Globo). Já Kodato trabalhou com uma infinidade de diretores, entre eles Leon Hirszman, Roberto Santos, Maurice Capovilla e Silvio Tendler, e John Boorman, na produção internacional Floresta das esmeraldas (1985).
Completa a tríade o carioca Carlos Ebert, que começou aos 19 anos como um dos fotógrafos do clássico O bandido da luz vermelha (1968), de Rogério Sganzerla, e nos últimos anos vem trabalhando com talentos como o paranaense Rodrigo Grota (Satori Uso, Booker Pittman) e o pernambucano Marcos Enrique Lopes, com quem desenvolve o curta-metragem Janela molhada. Em entrevista ao Diario, ele antecipa alguns temas que serão tratados no encontro de amanhã.
Entrevista // Carlos Ebert: "A sensibilidade e conhecimento de cada fotógrafo levam a uma imagem única"
Como o senhor define uma profissão como a sua, situada entre a técnica e a criatividade?
Costumo dizer que o diretor de fotografia é uma espécie de demiurgo entre o roteiro escrito e a criação das imagens. É um trabalho mais de transcriação que de transposição. Por isso, a escolha de um diretor de fotografia é uma espécie de eleição por afinidade estética e também de afetividade, pois é preciso se dar bem com a pessoa. Claro que fazer um filme é trabalho de equipe, mas a sensibilidade e conhecimento de cada fotógrafo levam a uma imagem única. Por isso, há diretores que gostam de trabalhar com determinados fotógrafos, mas em determinados filmes percebem que não é o fotógrafo ideal. Cada caso é um caso. Nos grandes filmes da história do cinema, o "casamento" entre diretor e fotógrafo sempre é muito bom.
Qual a diferença do seu trabalho com Sganzerla, e o que você vem desenvolvendo com novos diretores?
É diferente sim. Com o Sganzerla nós tinhamos a mesma idade, estavámos descobrindo como fazer cinema juntos. Aos 42 anos de carreira, prefiro trabalhar com os mais novos porque já conheço as demandas da minha geração. Gosto dos jovens porque seus pedidos constituem um desafio. Por essa experiênca, posso ajudá-los a realizar suas ideias.
Nos filmes feitos hoje no país, há o que possa ser classificado como uma fotografia "brasileira"?
Não. As ferramentas de captação digital aumentam em número e qualidade, o que deu espaço para o surgimento de uma diversidade de estilos. Mais do que isso, as fotografias estão se tornando cada vez mais específicas para cada história.
As possibilidades digitais permitem simular a textura da película de forma satisfatória, ou isso permanece um desafio?
É possível simular qualquer coisa digitalmente, inclusive riscos e outras "sujeiras" de filmes mal conservados. O suporte digital já chegou na mesma resolução que o fotoquímico, mas isso não significa o fim da película, pois ela ainda é a melhor forma de conservar um filme. Se bem cuidada, a película pode durar até 150 anos, e nenhum arquivo digital chega a tanto. Nisso ela é superior, e essa é uma função muito nobre.
Quais vantagens e desvantagens da nova geração de fotógrafos, que começa trabalhando no suporte digital?
A vantagem deles é desfrutar dessa diversidade de formatos e possibilidades infinitas de manipulação da imagem, algo inédito para qualquer outra geração. A desvantagem é que, para desfrutar disso com bom rendimento, é preciso mais disciplina na definição da linguagem. Pois é muito fácil se seduzir com os efeitos e perder o foco narrativo do filme.
* publicado no Diario de Pernambuco
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